terça-feira, 27 de dezembro de 2011

“Reflexão… para quê”!



Se qualquer final, seja do que for, é sempre tempo de reflexão, muito mais o deverá ser o final de um ano. Mais do que participar em comemorações festivas e escolher formas de acariciar os familiares e amigos evitando os habituais gastos que este ano se apresentam bem mais difíceis, o mês Dezembro deverá ser de um pensar sério em tudo quanto se tem feito e de um olhar mais convincente para o mais fundo de nós mesmos, pois é aí, bem dentro de si mesma, que cada pessoa conseguirá encontrar a sabedoria e força necessárias para fazer do mundo a imensa e próspera família que todos desejamos!...
Nesta noite de domingo dispus-me um pouco aos “gracejos” das “originais” conversas público/privadas da denominada “Casa dos Segredos”.
Aprende-se com o positivo e com o negativo, pelo que estas ruidosas conversas poderiam até vir a produzir uma aprendizagem muito considerável! Mas pela reacção do público, sinceramente, não me parece que o “saber ouvir e ver” seja uma qualidade da enorme maioria dos portugueses que se prendem por demais neste tipo de programas por mera distracção, e por não saberem nem quererem pensar na resolução das tormentas da vida e da crise!
O dinheiro e sucesso fácil são uma tentação e cada pessoa merece e tem o direito de ser respeitada tal como é… mas penso inúmeras vezes no tipo de pessoas em que nós, povo português, nos tornámos e continuamos a tornar!
Gostava de gastar algum do meu tempo numa análise mais minuciosa aos momentos público/privados destes eventos tão apreciados para por em relevo algo de mais útil sobre cada um eles… mas confesso que não sou capaz!
Admiro todos os intervenientes pelo aceitar dispor-se à mercê do que queiram pensar ou possam ver neles, o que é deveras complicado para qualquer pessoa. Mas, a vida dos outros só deverá interessar-nos para os ajudar ou para aprendermos com eles, e ali, além de não haver nada em que possamos ajudar também não é a analisar vaga e friamente as acções levadas a cabo sob tanta pressão que conseguimos aprender a avaliar minimamente as nossas próprias acções nem as de quem connosco convive, e muito menos de arranjar coragem para uma auto-crítica ou crítica positiva! Muito pelo contrário! Divertir-nos tanto a observar situações “sofríveis” pode levar-nos a encarar com a mesma naturalidade as parvoíces que os nossos filhos e netos possam vir a fazer e a continuar a brincar ao faz-de-conta com tudo quanto nos surgir na vida, esquecendo valores e responsabilidades!
Para termos a coragem de assumir os nossos erros e a correcção das nossas atitudes de modo a fazer, na realidade, algo de bom pela prosperidade e paz do mundo maravilhoso onde vivemos, é urgente aprender a escolher o que se ouve e o que se vê!

Feliz Natal e um próspero Ano Novo!
In: "Notícias de Cambra"

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

IMPRESSIONANTE!...


Consciente de que a “Eucaristia”, pelas mais variadas razões, é a maior e a mais excelente das orações, gosto muito de encontrar as igrejas cheias, principalmente nas vespertinas de Sábado ou no próprio Domingo!
A escassez de Sacerdotes e a falta de tempo útil dos fiéis leva a que as “Missas de 7º Dia” sejam muitas vezes incluídas nessas Eucaristias Dominicais. E nos dias em que isso acontece aparecem inúmeras pessoas que, na sua esmagadora maioria, não costumam sequer frequentar a igreja! Este seu comportamento deixa-nos perplexos, repletos de porquês e a pensar no que fazer ou dizer a essas pessoas que ainda guardam no coração, pelo menos, alguns reflexos de Fé! Por que irão à igreja nessas ocasiões? Será por saudade da pessoa que partiu… para que os familiares do defunto ou defunta sintam o calor da amizade… para convencer a sociedade da sua conduta cristã… ou para se convencerem a si mesmos de que são cristãos e cristãs a sério? Uma das razões pode ser o pensar que, na eminente partida da qual ninguém pode fugir, tenham também o devido acompanhamento! Pode ser ainda o receio da morte… ou o desejo de que, realmente, seja concedida por Deus a paz e felicidade à alma do amigo ou amiga que se foi!
Talvez um pouco de tudo… ou talvez nada! Não sei! Mas, de qualquer forma, a morte sempre foi e continua a ser a grande promotora dos encontros de vidas! Famílias quase totalmente desligadas encontram-se na hora da despedida dos seus entes queridos! Amigos que mal se cruzam, fazem-se presentes nessas horas!
Tenho um grande amigo e companheiro de trabalho e inquietações que partiu santamente faz quase dois anos! Pouco depois de se ver fatalmente acorrentado pelos cancros que o vitimaram num curtíssimo espaço de tempo, escrevia-me: “Sabe… tenho pensado muito e sinto uma imensa paz! E até queria falar da morte… mas como deve compreender, eu nunca morri!”
Talvez… quem sabe, todos nós, e muito especialmente as muitas pessoas das Missas de 7º dia, sentirão também necessidade de falar da morte… que é tão natural como o nascimento! Mas, falar da morte nos momentos de morte física não é a melhor altura, uma vez que a sensação irremediável de perda não nos deixará pensar correctamente. A morte, não obstante a imensa tortura da saudade, para quem tem Fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, não é o fim, é o começo, o momento da grande libertação, uma passagem para a vida eterna, o princípio de uma nova vida! Mas para que a morte, o momento mais importante da nossa vida, não cause medo e seja, como todos desejamos, um encontro jubiloso com Deus, temos de nos preparar para ela, muito para além da participação nos funerais e Missas de defuntos! Temos de falar na morte, acima de tudo, noutras situações mais convenientes que nos ensinem a viver em fraternidade de modo a nunca fazer aos outros o que não queremos que os outros nos façam, e a viver com toda a garra no mundo onde nascemos, mas, seguindo os passos der Jesus Cristo, com o pensamento na eternidade! Sabemos que a igreja é uma casa onde os filhos de Deus se juntam para fazer comunidade, meditar e rezar e aprender a viver segundo Jesus. Mas a verdadeira Igreja somos todos nós, os baptizados unidos a Jesus Cristo, mas que de pouco valerá sermos baptizados se não vivermos segundo a Fé do nosso Baptismo!
A Igreja é santa porque Deus é Santo, mas encontramos inúmeros defeitos nos homens e nas mulheres que são Igreja e vão à igreja… certos de que fariam muito mais asneiras se lá não fossem. Deus conhece todas as fragilidades e ama cada pessoa como ela é, o importante é que a pessoa queira amar a Deus e se deixe amar por Ele. Aproveitemos a oportunidade da morte de familiares e amigos para começarmos a ir à igreja muito mais vezes! Só frequentando a igreja podemos saber o que lá se passa e sentir o quanto as idas a essas casas de Deus nos ajudam no decorrer da vida.
A Fé é um dom de Deus que temos de agarrar com toda a força de que formos capazes. Que o Espírito Santo nos ajude!
(A publicar no Notícias de Cambra - Rubrica "Espiritualidade")

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

“Canudo… não é sinónimo de sucesso”!


 Há dias esta frase soou nos meus ouvidos, e eu interiorizei-a como um enormíssimo palavrão! Mas acabei por verificar que não é!
Sucesso é sempre um acontecimento bem sucedido, é um êxito. Ora, para conseguirmos o  “Canudo”, ou seja, o Curso de que, com mais ou menos custo, conseguimos o Diploma/Canudo com maior ou menor valorização, é sempre um sinónimo de sucesso, não o podemos negar!
Mas… fora os “Canudos”, poderemos afirmar que vivemos num mundo de “Doutores”?! Talvez! E quem dera que o pudéssemos cada vez mais!
Quando se ouve a expressão “Doutor”, normalmente, estamos a falar nesses “Canudos” conseguidos por aqueles e aquelas que, numa série de anos seguidos ou interpolados, se embrenharam nas inúmeras páginas de livros, algures, nas mais diversas “Faculdades”, na busca do saber organizado e planeado por quem, tal como eles, se credenciou de forma a poder, assim, ser chamado de “Doutor” ou “Doutora”, designação vasta referida a médicos, engenheiros, professores, psicólogos, psiquiatras… um sem número de designações todas ligadas ao estudo especializado e apurado de algo.
O “Doutor” aparece, assim, especializado e apto a dominar uma determinada matéria.
Mas, no meio de tudo isto que muito nos confunde a cabeça, deixamos de parte o “Doutoramento” tirado a partir do quase nada, numa aprendizagem mecanizada, organizada e assente numa cuidada e aturada experiência de vida.
Há dias, ao presenciar uma cena de dois desses “Doutores” que a Universidade da Vida foi formando, fiquei perplexa.
No arranjo de uma casa, havia um montão de telhas para colocar no telhado. Por considerar a tarefa morosa e difícil… fiquei de olho neles!
Pouco tempo depois, ouvi os dois operários rir às gargalhadas, enquanto falavam no “tiro aos pratos”.  E apressei-me a ver do que se passava!
Então, o Leonel, sobre a relva do jardim, atirava com força, uma a uma, as telhas amontoadas… que o Luís, sobre a casa, apanhava com toda a perfeição e esmero. E em poucos minutos, o montão das telhas estava no local exacto, pronto a colocar no telhado!
Então perguntei onde arranjavam tanta força e certeza para não deixarem cair as telhas, ao que entre sorrisos, responderam à uma:
- É fácil, são os nossos exercícios de emagrecimento!
Fiquei um pouco sem palavras, depois do que continuei:
- Pois é! Realmente, sem sombra para dúvidas, cada um, na sua profissão, é “Doutor”!
E retirei-me a pensar que, perante tudo isto, poderemos concluir que, de facto, “Canudo”, quando se consegue, é sempre sinal de sucesso, mas poderá não o ser no desenrolar da vida, daí a expressão: “Canudo… não é sinónimo de sucesso”!
E quanto ao afirmar que vivemos num mundo de “Doutores”, na medida em que cada pessoa em particular e todas em geral tiverem uma boa formação profissional e forem responsáveis na execução dos seus trabalhos… vivemos num mundo de “Doutores”!
Então, como o saber não ocupa lugar, como aprender é uma necessidade do Ser Humano, e como a sociedade precisa tanto de “Canudos” como de “Doutores”… sejamos pródigos em ofertar-lhos!

(A publicar no Notícias de Cambra)

domingo, 13 de novembro de 2011

Época de mudanças!...




As pessoas são naturalmente maldizentes, com tendência de se julgarem importantes e amigas de evidenciar a sua bondade perante os desatinos dos outros. Mas… os dias que correm são tempos de mudança. As nossas atitudes de ontem não podem ser as de hoje… e muito menos poderão ser as de amanhã!...Temos de aprender que as únicas críticas que poderemos fazer com segurança são as feitas a nós mesmos, aos nossos comportamentos errados.
Desculpem-me se, de certo modo, me estou a repetir, mas há coisas que me preocupam por demais. Se conseguíssemos abandonar a cegueira do egoísmo, tudo seria muito deferente! O presente, elo de ligação entre o passado e o futuro, é feito com as nossas vivências de cada dia, em que temos de recordar o passado para aprendermos com ele a melhor forma de nos lançarmos na conquista de um futuro mais risonho.
Há dias recebi um email com alguns escritos de Eça de Queiroz que se adaptam maravilhosamente à época em que vivemos. Isto faz-nos lembrar que a vida social é cíclica! Embora com outras personagens, de tempos a tempos, as crises repetem-se. E para as resolver é preciso que cada um de nós faça tudo quanto for possível para todos sairmos beneficiados.
Nada acontece por acaso! A grande maioria das pessoas tem vivido do prazer e gozo imediatos! Na ânsia desregrada do “ter” têm sido praticadas as mais insuportáveis barbaridades, pois há pessoas que falam de solidariedade mas que foram e são capazes de encher desmedidamente os próprios bolsos sem olharem ao caos que as suas atitudes provocaram e provocam. Depois, como formas de reaver dinheiro… há quem se lembre de entrar nos bolsos dos pobres coitados que sempre sobreviveram dos seus salários trabalhando para o bem-estar da sociedade, sem luvas de ninguém e a pagar os seus impostos. E esses que encheram os bolsos e continuam a encher com a entrada de várias e chorudas tranches mensais com subvenções vitalícias provindas das mais diversas ocupações… sem olhar ao sofrimento alheio… esquecidos de que a crise a que o País chegou proveio, acima de tudo, desses comportamentos!
Os nossos legisladores deveriam apurar que o 13º mês ou acerto dos salários auferidos pelos trabalhadores ao longo do ano, e o subsídio de férias, juntos, nada são em comparação com um pequeno nada das benesses desses tais! Eu não posso acreditar que tenhamos portugueses assim!...
O ser ministro, deputado, presidente ou seja lá o que for, com todo o respeito que merecem, são cargos a ocupar na nomenclatura social que para nada serviriam sem as massas que os elegeram.
Neste tempo de mudança urge mudar mentalidades, urge interiorizar que todos nós, do que ocupa os mais altos cargos até ao simples varredor de ruas, temos de viver para servir, não os nossos próprios interesses… mas os interesses comuns de todos nós! 
“Quem não vive para servir… não serve para viver!” Se todos pensássemos uns nos outros, a justiça social seria evidente e não haveria crise nenhuma, tenho a certeza!

domingo, 30 de outubro de 2011

Existência(s)


A vivência da espiritualidade é uma busca quase infinita do transcendental. Dentro da espiritualidade consideramos ser de significativa importância a questão concernente à diferença entre a teoria da vida única e a teoria das vidas múltiplas, nas implicações que isso tem.
Importa antes de mais corrigir os termos, para bom entendimento: em vez de “vida única” e “vidas múltiplas”, deverá dizer-se “existência única” e “existências múltiplas”, porque em realidade há para cada indivíduo uma única vida, resuma-se ela a uma só existência corpórea, seja ela constituída por múltiplas existência corpóreas, pois que neste segundo caso a personalidade integral subjetiva e consciente é sempre a mesma, apesar de revestir-se de aspetos objetivos diferentes.
A importância prática resultante da diferença entre estas duas teorias está em que a existência única não explica satisfatoriamente as desigualdades de inteligência, de moralidade, de saúde, de oportunidades, (o que leva a pôr em causa a justiça, a sabedoria e a bondade divinas) ao passo que a teoria das existências múltiplas dá essa explicação com a lei de causa e efeito, lei que tem suporte evangélico e científico.
Sabermos o que significa “o espírito é como o vento: sopra onde quer, ninguém sabe de onde vem nem para onde vai” e “temos de nascer de novo” , não impede o livre-arbítrio, porque nada o impede, mas faz-nos pensar duas vezes antes de agir, na certeza de que o que fizermos nesta existência terá repercussão em nós próprios em existência futura. A sabedoria popular afirma-o com o ditado: “como fizeres, acharás”.
Sendo, portanto, quase infinita a busca do transcendental, que sendo ele próprio o infinito – Deus - não podemos chegar à sua posse, (por isso o “quase”) temos de convir que cem anos que sejam dão para muito pouco, carecendo de lógica o senso de que a beatitude, que é decorrente da aquisição do amor e do total conhecimento das coisas, se obtém  com mínimo, ou nulo, esforço. 


A.   Pinho da Silva


Se lermos com muita atenção, verificaremos que a teoria das “existências múltiplas”, base do Espiritismo, leva a agir com precaução e amor para não ser magoado em existências futuras; a existência única leva a agir com amor em busca da comunhão fraterna e eternidade feliz. O aperfeiçoamento espiritual e humano com uma vida de doação e amor está subjacente a ambas as teorias.
Sejamos sinceros connosco mesmo e com quem connosco convive, dando constante glória a Deus com as nossas vidas agraciadas pelo verdadeiro AMOR, qualquer que seja a nossa teoria! A seu tempo, quem sabe, poderemos entrar em mais pormenores sobre a suma importância destas questões!

H. N

Texto de António Augusto, publicado no Notícias de Cambra

sábado, 22 de outubro de 2011

Crise… sim… mas de valores!...


A cada dia os portugueses vão sendo surpreendidos por novos pacotes de austeridade. Por toda a parte o slogan é sempre mesmo: “Está muito mau!” Deitam-se culpas a uns e outros, mas ninguém assume coisa nenhuma, quando, talvez, todos sejamos um pouquinho culpados!
Desde os mais idosos aos que têm a minha idade, vivemos tempos muito difíceis e cheios de desigualdades sociais. Contudo, havia respeito, tolerância, compreensão, solidariedade e amor. As inumeráveis questiúnculas entre familiares e vizinhos acabavam quando alguém ficava doente ou precisava de alguma coisa, pois partiam-se de imediato as cordas da indiferença e todos, amigos ou “inimigos”, estavam prontos para ajudar.  
Cada família vivia com o que tinha… muito ao contrário dos tempos de hoje em que a grande maioria das famílias estão sobrecarregadas de dívidas! O sonhar TER e PARECER sempre mais leva a que se viva muito acima do que se pode, e, ao menor atropelo, tudo cai por terra.
Essa coisa de retirarem os subsídios de Férias e Natal às pessoas que, no activo ou na situação de reformados/aposentados usufruam mais de 1000 euros mensais, se por um lado nos parece certo uma vez que a quase esmagadora maioria dos portugueses vive com menos de quinhentos euros mensais, há inúmeras famílias com salários acima dos mil euros que vivem com o orçamento tão apertado que os subsídios de Férias e Natal para nada mais têm servido além de reequilibrar as finanças familiares. Para estes… estas medidas vão causar inúmeros e gravíssimos problemas… talvez problemas irreparáveis!...
Perante este cenário, os cortes e restrições salariais vão acabando com a classe média, e a classe pobre, que à primeira vista parece não entrar nesta onda, pela sua vulnerabilidade quanto ao desemprego… não sei que será dela... mas os problemas que se vislumbram tiram o sono e aumentam as pressões arteriais.
E como ficam muitos dos senhores que vão à Comunicação Social pregar a Moral e a Justiça, e até fazem leis para apertar os cintos… dos outros… porque nos seus salários mais que chorudos ninguém toca?!...
Se os supracitados subsídios fossem mesmo retirados a todos “esses e essas” que  ganham muitos mil euros por mês… ai que ia dar um bom jeitinho aos cofres do Estado, lá isso ia! Mas… esses sujeitinhos todos e todas essas sujeitinhas não vão abdicar das chorudas mordomias provindas dos impostos do Zé Povinho… a quem culpam de culpas que não tem… e continua a pagar os efeitos da crise gerada pelos desgovernos dos que trocam o apoio às grandes massas do país pondo-se ao serviço dos grandes senhores das “massas”!
A riqueza não cai do céu… mas também não desaparece da terra! Uns mais que outros, todos nós fomos culpados desta crise. Agora, urge reaprender a viver e a reconquistar valores esquecidos! De nada vale falar contra seja quem for! Interessa, sem indignação e com dignidade, denunciar imoralidades e injustiças, alertar para os perigos, apelar à reflexão, à solidariedade, à partilha, à consciencialização de que o pouco de uns terá de ir ajudar o nada de outros.

Hermínia Nadais
A publicar no "Notícias de Cambra"

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Amigos… são bênçãos incomparáveis!


São vinte e uma horas e cinquenta e minutos, quando eu acabo de viver uma surpresa tão maravilhosa que me deixou de olhos molhados e com o coração mais acelerado. O acontecimento foi simples, como as coisas mais simples da vida! Presa na alegria que me ficou vou falar na imensa ventura de ter BONS AMIGOS, de qualquer idade, sexo ou condição social!
Há inúmeros textos a falar de amigos! Uma pessoa que se preocupe com o bem alheio tem inúmeros amigos, pois todas as pessoas são suas amigas, uma vez que tira todo o bem do bem que recebe e consegue extrair sempre algo de bom de entre o mal com que é, muitas vezes, apedrejado.
Mas… estes… são amigos vulgares daqueles que sempre temos! Eu quero referir outro tipo de amigos, os Amigos do peito, os que se contam pelos dedos: um… dois… três…
São AMIGOS muito restritos, mas que têm tal afeição e identificação connosco que, onde quer que estejam e façam o que fizerem, sabemo-los presentes a querer-nos bem e a pensar na nossa realização pessoal e felicidade! São AMIGOS que partilham alegrias… mas a quem, na grande maioria das vezes, temos de olhar nos olhos e usar toda a nossa perspicácia para descobrir e minimizar os seus desencantos e tristezas, porque não nos querem ver tristes e preocupados.
Um BOM AMIGO ou AMIGA cresce connosco e ajuda-nos a crescer; está presente sem interferir; alegra-se com a nossa alegria e chora com a nossa tristeza; não cobra amizade, é amigo; escuta, para compreender; não critica nem dá conselhos sem uma solicitação plausível; aceita carinhosamente e deixa que as resoluções surjam normalmente; não prende, dá total liberdade; encoraja na adversidade; tenta segurar firmemente e sem magoar os passos mal andados; é sincero e aponta a verdade, ainda que muito doa; a fidelidade leva a não partilhar confidências com nenhuma outra pessoa; ainda que a distância ou outros imprevistos da vida no-lo retirem da vista, sabemos que estaremos sempre guardado no coração...
Não vou conseguir exprimir a felicidade sem par de ter um Bom AMIGO, porque as verdadeiras AMIZADES não podem ser descritas nos textos! São graças tão grandes que nos enchem a vida das doçuras mais inefáveis e provocam sensações tão inebriantes que não conseguimos encontrar palavras nem expressões para descrevê-las!
A amizade não se descreve… vive-se, cultiva-se, aprende-se em todos os momentos da vida! Todos temos necessidade de AMIGOS, por isso, é mais que urgente aprender a “SER AMIGO”!
Eu… talvez ainda não saiba o que é ser boa amiga, mas ando a procurar descobrir. E os meus, escassos, mas maravilhosos amigos, aos pouquinhos, pela forma como vivem, me afagam e aconchegam, vão-me ensinando a “ser” amiga, lentamente, com todo o seu amor, carinho, ternura, paciência, delicadeza, persistência, palavras doces de encorajamento e saber. 
Amigos… são assim… bênçãos incomparáveis, a caminhar connosco pelas calmas planícies ou escarpadas montanhas, na esplendorosa luz do dia, na paz do entardecer ou na mais densa e escura noite!
Obrigada, AMIGOS!

Hermínia Nadais 
A Publicar no "Notícias de Cambra"

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Foi tão maravilhoso e profundo!...


Encanta-me a ideia de estar em casa, mas tenho que admitir que fora da terra se encontram, muitas vezes, comportamentos a que devemos prestar toda a nossa atenção.
Sempre que a vida permite gostamos de estar na Torreira durante as festas do São Paio, onde tudo nos encanta. Mas este ano encantou muito mais, foram momentos inesquecíveis.
Tanta gente como naquela Eucaristia, concelebrada por oito sacerdotes e dois diáconos, no pequeno palco frente à Capelinha do Padroeiro, só mesmo no recinto de Fátima! Representantes das Autarquias e outras Instituições de relevo marcaram presença logo na primeira fila. O enorme grupo formado por elementos de todos os grupos corais da Paróquia entoava os Cantos Litúrgicos com a maior perfeição, entusiasmo, harmonia e beleza!
Na Homilia, o jovem Pároco e presidente da concelebração, enalteceu, ao lado da vida de amor e fortaleza do São Paio, a presença das multidões, ali na Eucaristia, no tão afamado fogo-de-artifício, nas rusgas e regatas, nos conjuntos musicais, nas mais diversas compras feitas naquelas barracas que mais lembram as feiras… pois, dizia ele – “tudo faz parte do programa das festas e com tudo se louva a Deus!”
Chegada a hora de repartir a Comunhão, os Sacerdotes e Ministros distribuíram-se por todo o lado, espalhando afagos e sorrisos.
No final, o Presidente lembrou que a Eucaristia terminava só na Igreja, no final da Procissão, que logo devia começar a organizar-se, tal como o costume, com as entidades a ocupar os lugares determinados, bem assim como os andores e demais elementos.
Lentamente… marinheiros, barcos, redes, bandeiras, grupos folclóricos, bastantes andores… e entre eles… mães ou outros familiares e empurrar carrinhos de bebés vestidos não se sabe bem de quê, velhinhos e velhinhas a acompanhar netos “anjinhos” ou “santos”, tudo com uma imensa delicadeza e paz.
Para cada andor havia uma equipa de pessoas, que se reconhecia pela roupa, toda ela igual. 
A ladear a extensa via por onde passava, inúmeras pessoas olhavam a Procissão. A dona de uma barraquinha de doces levantava a corda presa no outro lado da estrada, para que os andores e bandeiras pudessem passar à vontade.
Furei por entre as pessoas, pois quis entrar na Igreja para sentir o delírio final daquela magnífica manifestação de fé! Estava mais que repleta!
Então, o Pároco, visivelmente feliz, agradeceu a presença e o trabalho e dedicação de todos para o sucesso da festa. E terminou, dizendo:
-“As cerimónias em honra do São Paio chegaram ao fim, mas as festas, não! Que continueis, até ao final, a comer e conviver com as vossas famílias, a fazer as vossas compras, a receber os vossos prémios… tal como tiverdes previsto, pois com tudo se louva a Deus! Que o São Paio vos proteja!”
Revi-me em muitas pessoas desta procissão!… Lembrei, por exemplo, a revolta da minha filha quando a vesti de anjo para participar numa procissão parecida! Hoje… não faria isso! Mas… com Deus… nada está mal! Aprende-se a viver, vivendo… e só se cresce na fé praticando actos de fé e sendo acolhido por quem tem o dever de nos instruir na fé.  
Quando as pessoas que andam pelas igrejas não se julgarem “tão importantes” e forem capazes de acolher aquelas que poucas vezes lá vão e louvam a Deus das mais diversas maneiras, como sabem ou podem… tudo será bem diferente!
Desculpem os meus desabafos, mas foi deveras surpreendente, não consegui ficar calada!

Hermínia Nadais

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Mudar… mas apenas o nome



Há dias, numa conversa com um grande e jovem amigo, foi-me sugerido um novo título para as minhas crónicas. Anotei a sugestão… e aceitei-a! Espero que as minhas “Orientações para a vida” continuem a ter algo que mereça a pena reflectir, pois mudei, sim… mas apenas o nome! O conteúdo partirá sempre do desejo de partilhar as minhas aprendizagens e experiências.
Hoje, não sei bem por onde começar, pois os acontecimentos que nos vão chegando, muitos deles pouco agradáveis, afogueiam-nos a inspiração.
Somos seres sociais, pelo que não podemos retirar o impacto da nossa vida na sociedade que, queiramos ou não, ficará indelevelmente marcada pelos nossos exemplos, para o bem ou para o mal. E as pessoas não esquecem com facilidade o que fazemos.
Ainda que a noite dos tempos pareça ter força capaz de apagar os nossos comportamentos, eles ficarão indelevelmente marcados, para sempre, no interior de cada pessoa com que nos relacionamos. E quando se diz que as pessoas têm memória curta, estamos a usar um disfarce esfarrapado, pois os tempos das memórias curtas, onde é que ele vai!… É só estar atento ao que se passa à nossa volta!
Cada ser humano é uma espécie de computador de tamanho inimaginável que, ao acumular dentro de si tudo quanto o envolve, deixa transparecer de si tudo quanto o envolveu! Somos o produto da sociedade em que vivemos!...
Fico muito magoada quando me apercebo de incoerências, das minhas, das dos meus familiares, amigos e amigas, e principalmente das dos nossos governantes; mas também fico muito abatida quando oiço dizer tanto mal… de tudo e de todos.
Será que não conseguimos interiorizar convenientemente que todas as pessoas têm coisas boas e más? Será que não conseguimos viver sem estar constantemente a dizer mal de alguém? Será que nunca mais nos apercebemos de que falar no mal é torná-lo cada vez mais presente e apetecível? Será que vamos continuar na busca da destruição em vez de extrair do fundo da nossa imaginação sonhos agradáveis e inovadores para nos comandar a vida? Será que não nos apercebemos que estamos a dar aos nossos filhos e netos uma educação de escárnio e maldizer?
Temos que ter presente que o “ser pessoa” se cultiva desde o primeiro instante da nossa existência. E neste contexto, urge reflectir um pouco sobre o que nos foi mostrado e dito quando éramos bebés, crianças e jovens, pois o que vimos, ouvimos e sentimos, nessas ocasiões, são as maiores razões de sermos hoje aquilo que somos.
Passámos a vida a falar da corrupção… da corrupção dos outros… e como está a nossa? Será que somos assim tão incorruptos? É muito fácil ver a corrupção quando ela é muito grande… mas temos de convir que, antes de ser grande… tudo é pequeno! Será que, no nosso dia a dia, nunca tentámos enganar ninguém? Como convivem, os nossos filhos e netos, com os colegas e professores, nos bancos das escolas?!... “É de pequenino que se torce o pepino!”
Se queremos uma sociedade mais justa e fraterna, comecemos por nós mesmos, praticando a justiça nos pequenos nadas da vida e procurando dar bom exemplo a quem nos rodeia, certos de que, “Quem é fiel no pouco, será fiel no muito!”
Um bom ano de trabalho, cheio de compreensão, justiça, perdão, amor e paz!

Hermínia Nadais
 A publicar no "Notícias de Cambra"

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Precisamos de “espelhos”


O sossego de não haver noticiários e emails a criticar governos e governantes, pessoas honestas ou desonestas, desprovidas ou importantes… foi “sol de pouca dura”. Viver de aparências ou julgar pelo que se ouve e vê leva a estes descalabros que nos entretêm a olhar as misérias dos outros e a esquecer das nossas… o que é muito pernicioso.
Quando vejo uma pessoa criticar outra(s) com autoridade e prepotência.. a primeira coisa que me vem à cabeça é que há muita falta de espelhos… daqueles espelhos que, em vez de nos mostrarem as silhuetas com que nos apresentamos em público nos apresentam a nossa ignorância e mesquinhez.
Olhar-se a esses espelhos invisíveis é sempre difícil, mas ajuda-nos a descobrir inúmeras coisas que, de outra forma, nunca conseguiríamos. Há várias formas de nos vermos nesses espelhos, cada qual com um resultado diferente: quando olhamos só as nossas qualidades ficamos com a sensação de que somos pessoas perfeitas, melhores do que todas as outras, o que, indubitavelmente, nos levará ao horrível defeito de, orgulhosamente, criticar e desprezar quem nos rodeia; se nos olharmos de forma depreciativa vendo só os nossos defeitos, também é deveras perigoso, pois cria em nós um tremendo complexo de inferioridade que nos fará sentir muito mal, piores que todos os outros; mas se no olharmos tal qual somos, com defeitos e qualidades… aos poucos, aprenderemos a tolerar melhor as imperfeições, tanto as dos outros como as nossas, e a realçar e desenvolver as qualidades, tanto as nossas como as dos outros. Ora esta é, sem dúvida, a única forma correcta de nos olharmos profundamente nesse espelho deveras especial, que não mostra nada ao olhar dos nossos olhos, mas nos faz viver mais intensamente o profundo sentir do nosso coração para nos saciar a sede de compreensão, amor, paz e realização pessoal e social.
Mas… cuidado com esses espelhos… pois a única imagem que podemos apreciar neles é a nossa. Nunca podemos avaliar as outras pessoas pela imagem que o nosso espelho nos der delas, porque as outras pessoas não têm os mesmos defeitos nem as mesmas qualidades que nós. Na verdade, nunca poderemos entrar no interior de outra pessoa para sabermos ao certo como ela é, além de que temos de ter a certeza de que não há duas pessoas iguais, pois cada pessoa é única e irrepetível, igual a si mesma e diferente de todas as outras.
Perante tudo isto podemos concluir que só uma pessoa interiormente equilibrada poderá ver nas pessoas com quem convive defeitos e qualidades, pois se vir só defeitos ou só qualidades, irremediavelmente, está psicologicamente abalada e necessita urgentemente que alguém a ajude a descobrir a verdadeira razão dos seus distúrbios emocionais.
Sabemos que há muita falta de valores, mas o bem e o mal vivem lado a lado com todas as pessoas, o que faz com que todas as pessoas tenham comportamentos certos e comportamentos errados, e é assim que temos de as ver… para não lhes lançar em cima as culpas de todo o mal que acontece. Mais do que nunca, na época que atravessamos, é preciso que todos sejamos “PESSOAS” coerentes e assumidas.
Que estes momentos de dificuldade por que todos nós, uns mais outros menos, estamos a passar, nos responsabilizem do bem que deveremos fazer para que no mundo, e principalmente no nosso Portugal, haja mais bem-estar, fraternidade e paz.
Não podemos esperar que a mudança das outras pessoas nos favoreça a vida, mas temos de mudar o suficiente para que aprendamos a ver os acontecimentos pelo seu lado positivo, de modo a que tudo possa correr melhor para toda a gente. 
Boas férias!  

Hermínia Nadais 
Publicado no "Notícias de Cambra"

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Festas e Romarias Populares


Sinceramente… eu não queria debruçar-me sobre este assunto… mas numa rubrica sobre espiritualidade isto encaixa-se mais que bem.
Nunca é demais lembrar: “espiritualidade” é um tema comum a todas as pessoas; espiritualidade cristã é a vivência de todos os que, de algum modo, acreditam em Jesus Cristo.
De entre estes últimos os cristãos católicos são muitas vezes criticados pelas suas vivência cristãs. Há um sem número de situações dúbias que teremos de aprender, e eu gostaria de começar a desfazer alguns mal-entendidos, a começar pelas Festas e Romarias Populares, quase que transformadas em enormes feiras e parques de diversões.
Os meses de Verão são os mais propícios a essas Festas e Romarias, sempre feitas em louvor do Senhor Jesus, da Virgem Maria ou de um Santo qualquer. Se nos debruçarmos a sério sobre as suas origens, veremos que cada uma delas tem a sua história muito própria e muito coerente com a razão da sua existência.
Normalmente, festas, são homenagens a alguém; romarias são agradecimento de algo!
Por norma, só homenageamos as pessoas que conhecemos. E agradecemos às pessoas que nos agraciaram com alguma benesse.
Tenho presente que os católicos se sentem muito lesados se os outros cristãos os criticam da prática das romarias, e às vezes chocam-se mesmo até com os Padres quando os encaminham para onde eles acham que não devem ir.
Sabemos que cada um é livre de viver como sabe e muito bem entende no respeito pela liberdade dos outros, por isso achamos que é urgente interiorizar a verdadeira vivência das Festas e Romarias, de modo a fazer delas aquela esplendorosa Manifestação de Fé que se quer mostrar quando se realizam as tradicionais Procissões.
Por coerência consigo mesmas e com a sociedade, as pessoas que vão às diferentes Romarias devem conhecer minimamente a vida do Santo que ali se venera e imitar as suas virtudes… pois se invocamos um Santo é porque, de algum modo, nos identificamos com ele.
Quanto ao pagamento de promessas, eu já passei por essa fase, e confesso que tive na minha vida autênticos milagres… mas agora verifico que tenho milagres bem maiores… sem fazer promessas!
O decurso da vida vai-nos mudando! Quando estamos perante amigos muito íntimos, como deve ser Deus, por QUEM viveram os Santos e por QUEM nós também tentamos viver, não sentimos necessidade de fazer promessas, pois sabemo-los presentes a todas as nossas dificuldades e anseios. Acabamos por aprender que Deus quer “misericórdia e não sacrifício” e que o sacrifício mais agradável a Deus e aos Santos é o que é feito pela misericórdia que devemos ter connosco mesmo e com os nossos irmãos.
Para seremos misericordiosos e compreensivos com os outros temos de o ser connosco próprios, porque é muito difícil… talvez seja mesmo a maior dificuldade humana… o olhar para nós mesmos e admitir os nossos defeitos… mas só quando conseguirmos admiti-los aceitaremos, sem revolta de maior, os defeitos dos outros, e haverá entendimento e crescimento comum, porque todos tentaremos ser pessoas melhores.  
Quando virmos uma pessoa muito revoltada… em vez de fugir ou criticar, tentemos por todos os meios ajudá-la a descobrir-se a si mesma e a aceitar-se tal qual é, que o resto virá por acréscimo.
Umas santas férias… um trabalho muito próspero… ou muita paciência na sua procura… no gozo perfeito das nossas muito queridas Festas e Romarias!

Hermínia Nadais - herminia.nadais@sapo.pt