Há dias, numa qualquer estação de TV, pareceu-me ouvir dizer que todo o ser humano, invariavelmente, tem necessidade de ser útil! E fiquei algum tempo a sós, com aquela ideia a baralhar-me profundamente a cabeça.
Depois de muito pensar acabei por concluir que, de facto, a necessidade de ser útil, assumida ou não, persegue sistematicamente todo o ser humano… mas de forma muito antagónica, pois enquanto há pessoas que sentem necessidade de ser úteis a si mesmas outras há que fazem de tudo para puderem colocar as suas qualidades e possibilidades ao serviço de quem as rodeia. Neste mundo maravilhoso em que vivemos, o egoísmo e o altruísmo rodam por aí, sem cessar, de mãos dadas e na grande maioria das vezes baralhadas, misturadas e até confundidas!
Quando deparamos com pessoas muito interessadas em “serem úteis a si mesmas” temos graves problemas, pois essas pessoas, sem se darem conta, egoística e interesseiramente, acabam por levar as demais a fazerem somente o que elas querem e lhes agrada… e o pior de tudo é que, na sua constante insatisfação, se tornam sedutoras e se acham sempre umas coitadinhas porque ninguém lhes faz a vontade ou as serve como elas acham que devem ser servidas. Quem procede de modo contrário, ou seja, quem vive com altruísmo, por um lado, acaba por estar sempre bem porque a satisfação dos outros é a sua própria satisfação; mas, como não há regra sem senão… lá vem uma época em que, sem jeito para fazer valer as suas opiniões e gostos nem de procurar os seus interesses pessoais que sempre deixam para segundo plano, caem num desânimo arrasador porque se sentem terrivelmente abusadas e desprezadas e sem prestígio ou valor para ninguém.
Como é fácil de deduzir… qualquer destas situações é terrivelmente caricata e precisa de auto e hétero correção constante.
Há uns anos bastante largos fui ao médico, “stressada”, com essa doença de que ao tempo ninguém falava e agora está na moda… e o médico recomendou-me de que eu teria de olhar muito bem por mim… primeiro eu, segundo eu, terceiro eu… décimo eu… e depois os outros se eu não precisasse – dizia ele - e reafirmou que, se eu não olhasse muito bem por mim, nunca poderia ter forças capazes de olhar bem pelos outros.
Fiquei pasmada com o que ouvi… mas como confiava no médico, segui o conselho de perto… e muito embora ainda tenha os meus momentos de desânimo e abatimento, dei-me muito bem com a observação quase constante do supracitado conselho.
Nós, seres humanos, somos o que for o nosso interior, pois o que se vê, o nosso ser corporal ou bilhete de identidade que nos diferencia dos demais não passará nunca de uma espécie de veículo pessoal onde estamos constantemente metidos e com que nos mostramos e deslocamos neste mundo em que vivemos. E porque “o mais importante é invisível aos olhos”, daqui nos vem a suprema importância de aprendermos a valorizar a nossa espiritualidade, pois é a que moralmente nos define e nos tornará para sempre felizes ou infelizes, conforme consigamos viver no amor verdadeiro ou num egoísmo exagerado!
Que nesta época de renovação pascal, à Luz clara e convincente de Jesus Cristo, a consciência superior de que fomos dotados nos ajude a encontrar o nosso verdadeiro caminho – o da compreensão, aceitação, doação e amor, de que Ele foi o mais maravilhoso exemplo a seguir!