Desculpem-me a ousadia, mas hoje apetece-me fazer uma pequena (in)confidência,
que me perdoem os evocados!
Faz tempo convidaram-me a ir a uma sessão de fados por artistas
amadores a realizar num determinado local cá do sítio.
O tempo era escasso! Mas a possibilidade de poder ouvir fados cantados
por pessoas da terra, algumas delas amigas muito queridas, levou-me a aceitar o
convite.
O evento englobava um jantar convívio, onde se inseriram várias
pessoas, algumas que nunca tinha visto entre outras minhas amigas ou conhecidas.
O ambiente era acolhedor e harmonioso.
Excluindo um pouco alguns e algumas “gralhas” a necessitar de dar nas
vistas, o salão ficou cheio de gente interessada no acontecimento e feliz por,
numa sã camaradagem, evocar memórias, fazer novos amigos, ou, muito
simplesmente, partilhar um pouco de vida, alegria e boa disposição.
É curioso que, mesmo no meio de pessoas com gostos, ideias e interesses
diferentes dos nossos, há sempre quereres parecidos ou iguais. Numa mesa em
frente, estava um casal para mim indefinível: a amizade connosco era pouco
intensa, a ideologia discrepante, a espiritualidade diferentemente vivida, um
certo antagonismo na maneira de ser e de querer… mas uma enorme e digna realidade
nos unia e une: o interesse pela verdade no valor incomensurável do verdadeiro
amor e no gosto pela partilha das mais divergentes descobertas, num sábio e
permanente gerir de conflitos para melhorar o bem-estar geral e o crescimento
global e globalizante de quem connosco convive.
Depois de um breve e brilhante encontro de boas-vindas com um
cumprimento muito cordial e dois dedos de conversa desconcertada arranjada um
tanto à pressa sem sabermos muito bem o que dizer, ocupamos os espaços que nos
estavam reservados.
De quando em vez, verificávamos que os nossos olhares se iam cruzando por
entre as conversas animadas e os aplausos empolgados aos artistas no aconchego
agradável e melodioso daquela noite embevecida onde se respirava uma inefável e
deleitosa paz.
O adiantado da hora fez com que o casal se retirasse antes do fim… com
um sorriso aberto, franco e acolhedor, acompanhado de um leve acenar de mão e
um olhar muito terno e carinhoso.
Permanecemos ali durante mais um tempinho, mas sem aquela sensação
inebriante dos maravilhosos momentos de ventura, serenidade e paz que o António
e a sua linda e delicada esposa me fizeram sentir, me inundaram de todo o
coração, me marcaram a vida e ma marcarão indelevelmente até ao resto dos meus
dias.
Por estas e outras semelhantes, posso afirmar com toda a certeza que, “quem
tu pareces, não interessa, mas quem tu és na realidade, sem sombra de dúvida,
faz toda a diferença!” Ser… ou parecer… é uma questão a ter em conta e que urge
saber escolher e ter a coragem necessária para levar a cabo a decisão tomada,
pois seja qual for, pela coerência a ter, nunca será fácil!
Neste contexto… qualquer que seja a nossa crença religiosa ou mesmo que
queiramos afirmar não ter crença alguma, no desenrolar da nossa vida, que não
queiramos parecer… mas muito simples e delicadamente que sejamos, realmente, algo
que irradie todo o amor e dedicação que o mundo precisa para ser minimamente
feliz!
In "Notícias de Cambra"