Não sei porquê... mas sinto vontade de partilhar!...
Como já se vem tornando habitual saímos com a auto-caravana para a “Romaria Centenária” do final das Festas da Torreira, à meia-noite do dia seis para sete de Setembro.
Noite do fogo de artifício no mar, era suposto que o trânsito estivesse compacto na saída, mas muito pelo contrário, chegamos por entre uma amálgama de carros e peões cerca das três da madrugada, com duas lindas horas passadas desde a chegada à ponte da Varela até ao estacionamento desfrutando o maravilhoso panorama daquela sociedade agitada onde as noites foram os dias para milhares de jovens que se espalhavam por ali e se apinhavam ao longo da praia entre o palmilhar nocturno das areias bem junto às ondas e as petiscadas nos bares bem despertos da zona, ao som das suas músicas favoritas atroando os ares a distâncias consideráveis até cerca das nove da manhã, hora em que tudo para eles adormecia.
Nada de desacatos... nada de confusões. Animação perfeita.
A “feira”, nas ruas principais, bem agradável à vista e à bolsa.
A noite seguinte trouxe o fogo de artifício na ria, espectáculo ímpar observado por centenas de milhar de pessoas de todas as idades, credos, cores e condições.
No final, tranquilamente, os veículos esperavam o brando movimento da multidão compacta desde bebés dormindo placidamente nos carrinhos aos mais idosos agarrados à pouca força da vida. Com o maior respeito mútuo que se possa imaginar, como corrente de água tranquila deslizando em terreno plano, encaminhavam-se para aplaudir a artista que os esperava e com quem foi estabelecida uma calorosa intercomunicação. A igreja, meigamente aberta, convidou alguns a entrar.
Espectáculo lindo de se ver... e melhor de se sentir!
No termo das festas foi chegada a hora de agraciar os patronos da localidade: a Natividade de Nossa Senhora ali invocada como Senhora do Bom Sucesso, e o jovem Mártir S. Paio. Foi junto à sua minúscula capela que D. António, Bispo de Aveiro, ladeado por nove Presbíteros e um Diácono, todos da região limítrofe da Torreira e conterrâneos do Pároco daquela comunidade, Padre Abílio Araújo, presidiu à Eucaristia. O Padre Abílio foi incansável na vigilância apertada de todos os momentos e intervenientes na celebração, deslocando-se rapidamente em todas as direcções tal como criança atenta e curiosa repleta de sorrisos amáveis e gestos encantadores.
Antes do início da procissão orientou as pessoas no cumprimento de promessas a se colocarem entre os onze andores que os restantes fiéis deviam ladear, pois atrás da música não deveria ir ninguém.
Um facto curioso é que duas senhoras de tronco bem descapado alternavam entre si a posse de um bebé vestido de anjo... que o Padre Abílio olhou inúmeras vezes... mas carinhosa e meigamente!...
D. António agradeceu o maravilhoso trabalho do Pároco e de todos os que com ele colaboravam; acarinhou o clero presente, as autoridades, o povo residente e os visitantes, lembrou os emigrantes, os falecidos, as comunidades vizinhas; chamou todos os padres presentes pelos seus nomes próprios; enumerou factos concretos da vida social da forma mais simples e elucidativa, sem restrições a nada nem a ninguém.
Na participação na Eucaristia aglomerou-se uma numerosa multidão... e uma multidão ainda maior fez cordão nas bermas das ruas na direcção da igreja.
Durante o trajecto da procissão, os comentários que inevitavelmente ouvi são de um povo que vagueia sedento de algo que não sabe como encontrar. Talvez... quando houver mais coerência nos que se dizem católicos e todos os nossos Bispos e Padres tiverem a linguagem e comportamento do D. António e do Padre Abílio, as pequenas “multidões” se possam tornar em grandes “MULTIDÕES”!...
Não podemos iludir-nos! As palavras só convencerão... quando provindas do coração da vida!...
Prof. Hermínia Nadais
A publicar no “Notícias de Cambra”
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
O PROFESSOR... SUPORTE DA ESCOLA
Uma escola de vida, de forma alguma pode prescindir da vida da escola, e vice-versa. Esta verdade já foi analisada o bastante para estar de todo compreendida e aceite. Mas, imaginar, investigar, perguntar o que será a vida da escola, é uma prática cada vez mais corrente. Por incrível que pareça, nestes casos, as respostas obtidas são omissas na quase totalidade das situações. E acontece assim porque os conceitos e as realidades da palavra "escola" confundem-se de tal forma que barram as respostas às mais múltiplas questões.
Vulgarmente chamamos "escola" a um edifício onde circulam todos os intervenientes num determinado processo educativo, ou seja, onde circula uma comunidade escolar. Pode ter boas ou más condições, albergar crianças, jovens ou adultos, facilitar ou dificultar a vida de quem ali trabalha, mas só. Porque, o edifício não é "escola"!... É, sim, um espaço escolar. A escola necessita desse espaço para ser implantada... mas não é esse espaço, é a vida que ali jorra com abundância, que ali respira com toda a força de seus pulmões. É uma vida muito activa e muito fugaz. Dentro dos espaços escolares vive-se com uma intensidade tão forte que nem dá para compreender.
Comecemos por interiorizar um pouco desta vida reflectindo nalguns modelos de professores, "suportes da escola", cujos comportamentos podem bem fazer parte do conhecimento imediato de muitos leitores.
Os professores, se o são por vocação e não pela troca de conhecimentos por dinheiro, são uns eternos estudantes, ávidos de aprender. Podem apresentar claramente expressões físicas do cansaço causado pelo rodar dos anos, mas continuam jovens de espírito, à procura de novas descobertas, de novos saberes, e prontos a partilhar tudo com todos, principalmente com os seus alunos com os quais se misturam e confundem com a mais relativa facilidade.
E confundem-se, porquê?
Porque o professor não ensina, o professor tem uma formação específica que o leva a descobrir formas cada vez mais práticas para ajudar a aprender. O professor que se preza, vive, no dia a dia da sua profissão, o seu tempo de estudante. Ele valoriza o trabalho e o esforço do aluno, porque vai sendo, indefinidamente, um aluno... entre alunos. E desce às suas cadeiras para, juntos, desfazerem as dificuldades que existirem e descobrirem novas aprendizagens. Admite que não é portentor de toda a sabedoria e deixa transparecer ao aluno a realidade de que a vida é uma aprendizagem constante que devemos aproveitar até ao fim da sua existência.
Será alguma vergonha um professor admitir que o seu processo de enriquecimento de saberes é constante e inesgotável, e que muitas vezes "cresce" com o próprio aluno? E quanto se aprende com esses jovens, com essas crianças?!...
Um professor que assim não for, que não conseguir ser esse "estudante permanente e atento", é um ser parado no tempo e que o tempo ultrapassará com rapidez. Deixa de ser professor para ser disco riscado, que de ano para ano, repete a mesma matéria sem alteração de métodos ou mudança de atitudes. E o pior é que nestes casos, normalmente, julga-se muito importante, não aceita sugestões. Sobe ao estrado para falar, e o insucesso escolar... é sempre culpa do aluno. A relação ensino/aprendizagem perde toda a sua beleza e interesse, e cria-se uma situação de cansaço para as duas partes: para o professor porque, desfasado e obsoleto, não consegue cativar e despertar a atenção do aluno para os objectivos propostos para o seu desenvolvimento; para o aluno, porque se torna incapaz de se interessar pela aprendizagem, de se integrar na vida escolar, de conseguir aprender.
Que há alunos muito difíceis e com culpa no fraco rendimento escolar... sempre os houve, e haverá!... Mas, sejamos sinceros... Na maioria dos insucessos normais, embora haja cada vez mais agentes a procurar sofregamente meios para os combater, ainda teremos que admitir, com muita mágoa, que há intervenientes no processo educativo muito mais culpados do que a grande maioria os alunos. Quem, e porquê, é caso para pensar, continuando a análise de muitas coisas curiosas... e pouco visíveis.
Hermínia Nadais
Publicada no “Notícias de Cambra”
Vulgarmente chamamos "escola" a um edifício onde circulam todos os intervenientes num determinado processo educativo, ou seja, onde circula uma comunidade escolar. Pode ter boas ou más condições, albergar crianças, jovens ou adultos, facilitar ou dificultar a vida de quem ali trabalha, mas só. Porque, o edifício não é "escola"!... É, sim, um espaço escolar. A escola necessita desse espaço para ser implantada... mas não é esse espaço, é a vida que ali jorra com abundância, que ali respira com toda a força de seus pulmões. É uma vida muito activa e muito fugaz. Dentro dos espaços escolares vive-se com uma intensidade tão forte que nem dá para compreender.
Comecemos por interiorizar um pouco desta vida reflectindo nalguns modelos de professores, "suportes da escola", cujos comportamentos podem bem fazer parte do conhecimento imediato de muitos leitores.
Os professores, se o são por vocação e não pela troca de conhecimentos por dinheiro, são uns eternos estudantes, ávidos de aprender. Podem apresentar claramente expressões físicas do cansaço causado pelo rodar dos anos, mas continuam jovens de espírito, à procura de novas descobertas, de novos saberes, e prontos a partilhar tudo com todos, principalmente com os seus alunos com os quais se misturam e confundem com a mais relativa facilidade.
E confundem-se, porquê?
Porque o professor não ensina, o professor tem uma formação específica que o leva a descobrir formas cada vez mais práticas para ajudar a aprender. O professor que se preza, vive, no dia a dia da sua profissão, o seu tempo de estudante. Ele valoriza o trabalho e o esforço do aluno, porque vai sendo, indefinidamente, um aluno... entre alunos. E desce às suas cadeiras para, juntos, desfazerem as dificuldades que existirem e descobrirem novas aprendizagens. Admite que não é portentor de toda a sabedoria e deixa transparecer ao aluno a realidade de que a vida é uma aprendizagem constante que devemos aproveitar até ao fim da sua existência.
Será alguma vergonha um professor admitir que o seu processo de enriquecimento de saberes é constante e inesgotável, e que muitas vezes "cresce" com o próprio aluno? E quanto se aprende com esses jovens, com essas crianças?!...
Um professor que assim não for, que não conseguir ser esse "estudante permanente e atento", é um ser parado no tempo e que o tempo ultrapassará com rapidez. Deixa de ser professor para ser disco riscado, que de ano para ano, repete a mesma matéria sem alteração de métodos ou mudança de atitudes. E o pior é que nestes casos, normalmente, julga-se muito importante, não aceita sugestões. Sobe ao estrado para falar, e o insucesso escolar... é sempre culpa do aluno. A relação ensino/aprendizagem perde toda a sua beleza e interesse, e cria-se uma situação de cansaço para as duas partes: para o professor porque, desfasado e obsoleto, não consegue cativar e despertar a atenção do aluno para os objectivos propostos para o seu desenvolvimento; para o aluno, porque se torna incapaz de se interessar pela aprendizagem, de se integrar na vida escolar, de conseguir aprender.
Que há alunos muito difíceis e com culpa no fraco rendimento escolar... sempre os houve, e haverá!... Mas, sejamos sinceros... Na maioria dos insucessos normais, embora haja cada vez mais agentes a procurar sofregamente meios para os combater, ainda teremos que admitir, com muita mágoa, que há intervenientes no processo educativo muito mais culpados do que a grande maioria os alunos. Quem, e porquê, é caso para pensar, continuando a análise de muitas coisas curiosas... e pouco visíveis.
Hermínia Nadais
Publicada no “Notícias de Cambra”
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
A ESCOLA... PILAR DA SOCIEDADE
Uma sociedade, é o que forem os seus cidadãos!
Uma escola, é o que forem as leis que a regem, os seus docentes, os seus auxiliares de acção educativa, os seus discentes, os seus encarregados de educação, o seu meio envolvente em geral!... Inserida numa sociedade, é uma parte integrante dessa mesma sociedade!... E não só é uma parte integrante, como é mais do que isso. A "Escola", mais do que nunca, é o alicerce, é o pilar da sociedade dos nossos dias. Em tempo algum esta verdade foi tão evidente, pois nunca como hoje a "Escola" se projectou tanto na vida das pessoas.
O tempo em que na escola se aprendia a ler, escrever e contar, está cada vez mais distante. Pode parecer descabida esta afirmação, mas se nos debruçarmos um pouco sobre a vida das nossas crianças e jovens estudantes, depressa nos apercebemos desta realidade. Essas actividades são apenas o mínimo que se pode aprender numa escola.
Pelas reflexões que temos vindo a fazer sobre o desenvolvimento económico e sociocultural das populações com todos os problemas sociais daí inerentes, e olhando um pouquinho à nossa volta, vemos claramente que grande parte das nossas crianças é tirada aos laços familiares com poucos meses de vida para ser entregue a amas ou instituições, e que a maior parte das crianças é lançada na "Escola" aos três anos de idade. Nas amas e na escola, passam muito do seu dia. A nossa vida é uma aprendizagem constante. Como não são excepção à regra, essas crianças, durante essa parte do dia, aprendem... e aprendem muito, pois é nessas idades que mais se aprende. Os lugares que frequentarem são uma parte integrante de suas vidas, e essas crianças serão, para sempre, muito do que essas amas ou escolas fizerem por elas. E não podemos esquecer os amigos que as rodeiam, pois esses também têm uma capital importância na sua aprendizagem, boa ou má.
É linguagem corrente que a família é a grande culpada dos problemas que afligem a nossa juventude. É verdade. Não podemos esquecer, de forma alguma, que a família é a grande responsável por toda a educação. Se os pais, deliberadamente, fazem vir ao mundo esses seres tão valiosos que são os seus filhos, devem fazer tudo para que sejam homens competentes e realizados. Mas se a família, só, não pode, e faz delegação dos seus deveres noutra pessoa ou instituição, a partir daí, tem que passar a haver uma cooperação constante entre as partes, pois há uma responsabilidade repartida mas que se conjuga no mesmo fim, o desenvolvimento integral das crianças ou jovens.
O Estado, que dá maior ou menor protecção às famílias e que orienta todos os estabelecimentos de ensino através do Ministério da Educação, tem parte integrante nesta tarefa. Assim sendo, poderemos dizer que o desenvolvimento harmonioso de qualquer ser humano, dependerá da sua família e meio envolvente, e da preocupação que o Estado tiver com esse problema.
As famílias, são o que são, e como são. O meio ambiente é o que forem as famílias.
E as escolas, o que são?
As escolas, nos diversos graus de ensino, serão sempre o que forem as leis que as regem, os seus professores, o seu pessoal.
E onde está o porquê de tanta educação precária, de tanta criança e jovem irrealizado e insatisfeito?
Se as tarefas estão repartidas, ao fim e ao cabo, as responsabilidades terão de estar repartidas também.
Perante isto, quem serão os responsáveis?
A Família? O Estado? A "Escola"? O meio? Ou serão todos juntos, cada qual com a sua quota parte de culpa? E que culpa poderá ter cada um?
Neste início de ano escolar, este tema, pode bem ser objecto de futuras reflexões।
Hermínia Nadais
Publicada no Notícias de Cambra
Uma escola, é o que forem as leis que a regem, os seus docentes, os seus auxiliares de acção educativa, os seus discentes, os seus encarregados de educação, o seu meio envolvente em geral!... Inserida numa sociedade, é uma parte integrante dessa mesma sociedade!... E não só é uma parte integrante, como é mais do que isso. A "Escola", mais do que nunca, é o alicerce, é o pilar da sociedade dos nossos dias. Em tempo algum esta verdade foi tão evidente, pois nunca como hoje a "Escola" se projectou tanto na vida das pessoas.
O tempo em que na escola se aprendia a ler, escrever e contar, está cada vez mais distante. Pode parecer descabida esta afirmação, mas se nos debruçarmos um pouco sobre a vida das nossas crianças e jovens estudantes, depressa nos apercebemos desta realidade. Essas actividades são apenas o mínimo que se pode aprender numa escola.
Pelas reflexões que temos vindo a fazer sobre o desenvolvimento económico e sociocultural das populações com todos os problemas sociais daí inerentes, e olhando um pouquinho à nossa volta, vemos claramente que grande parte das nossas crianças é tirada aos laços familiares com poucos meses de vida para ser entregue a amas ou instituições, e que a maior parte das crianças é lançada na "Escola" aos três anos de idade. Nas amas e na escola, passam muito do seu dia. A nossa vida é uma aprendizagem constante. Como não são excepção à regra, essas crianças, durante essa parte do dia, aprendem... e aprendem muito, pois é nessas idades que mais se aprende. Os lugares que frequentarem são uma parte integrante de suas vidas, e essas crianças serão, para sempre, muito do que essas amas ou escolas fizerem por elas. E não podemos esquecer os amigos que as rodeiam, pois esses também têm uma capital importância na sua aprendizagem, boa ou má.
É linguagem corrente que a família é a grande culpada dos problemas que afligem a nossa juventude. É verdade. Não podemos esquecer, de forma alguma, que a família é a grande responsável por toda a educação. Se os pais, deliberadamente, fazem vir ao mundo esses seres tão valiosos que são os seus filhos, devem fazer tudo para que sejam homens competentes e realizados. Mas se a família, só, não pode, e faz delegação dos seus deveres noutra pessoa ou instituição, a partir daí, tem que passar a haver uma cooperação constante entre as partes, pois há uma responsabilidade repartida mas que se conjuga no mesmo fim, o desenvolvimento integral das crianças ou jovens.
O Estado, que dá maior ou menor protecção às famílias e que orienta todos os estabelecimentos de ensino através do Ministério da Educação, tem parte integrante nesta tarefa. Assim sendo, poderemos dizer que o desenvolvimento harmonioso de qualquer ser humano, dependerá da sua família e meio envolvente, e da preocupação que o Estado tiver com esse problema.
As famílias, são o que são, e como são. O meio ambiente é o que forem as famílias.
E as escolas, o que são?
As escolas, nos diversos graus de ensino, serão sempre o que forem as leis que as regem, os seus professores, o seu pessoal.
E onde está o porquê de tanta educação precária, de tanta criança e jovem irrealizado e insatisfeito?
Se as tarefas estão repartidas, ao fim e ao cabo, as responsabilidades terão de estar repartidas também.
Perante isto, quem serão os responsáveis?
A Família? O Estado? A "Escola"? O meio? Ou serão todos juntos, cada qual com a sua quota parte de culpa? E que culpa poderá ter cada um?
Neste início de ano escolar, este tema, pode bem ser objecto de futuras reflexões।
Hermínia Nadais
Publicada no Notícias de Cambra
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
PALAVRAS, LEVA-AS O VENTO!...
"Palavras, leva-as o vento"!... Elas só têm valor quando ligadas a actos conscientes e responsáveis que ponham em evidência, nas realidades da vida, as afirmações e convicções de quem as pronuncia.
"Trabalhar para a construção de um mundo melhor" é frase corrente na linguagem de todos os cidadãos.
Falar é fácil!... Fazer da própria vida um meio de construir esse "mundo melhor" é difícil, delicado e controverso. Mas é o mais importante, urgente e necessário, não só para a integração social e realização pessoal de cada um, mas também, e mais ainda, para o desenvolvimento comunitário, para a paz e unidade entre os povos, as nações, o próprio Mundo. Discernindo o mais conveniente, caso a caso, entre o apelo à emoção ou à razão, cada um, em espírito e verdade, deve tentar descobrir a forma de conjugar estas duas forças em todas as situações ao longo da sua existência, de forma a obter cada vez maior respeito por si e pelo seu semelhante.
Ninguém pode dar o que não tem; ninguém pode desejar o que não conhece; ninguém pode usufruir do que para ele não existe...
Estas frases, assim soltas, parecem desprovidas de sentido; no entanto, estão directamente relacionadas com muitas realidades.
Os comportamentos sociais de qualquer comunidade são transmitidos de pais para filhos, de avôs para netos; assim sendo, passam a fazer parte integrante dos costumes e tradições dessa comunidade e de cada um dos seus membros.
Nos nossos dias, existem as comunidades mais díspares, algumas delas com costumes bem bizarros. É só prestar atenção a tantos documentários televisivos... E quanto mais primárias, mais difíceis de compreender e mais tenazes na defesa ou ataque. E todas lutam por valores que pensam ser os melhores.
Isto verifica-se desde os membros dos clãs às inúmeras religiões ou crenças, partidos políticos ou associações...
O reconhecimento do valor do ser humano em toda a sua plenitude e com todos os seus dons: carinho, amor, tolerância, compreensão... é apanágio dos seres mais cultos. Poderemos dizer que "cada povo tem a sua cultura", e é uma verdade; mas os valores atrás referidos não são pertença de uma cultura, são universais, devem caber "todos" em "todas" as culturas.
Mas, como podem ser transmitidos se não existem totalmente numa comunidade? Ninguém pode dar o que não tem.
E como pode uma comunidade querer melhorar os seus hábitos, se não sabe como é melhor, se não conhece outra forma de vida além da sua? Ninguém pode desejar o que não conhece.
Se as pessoas vivem em comunidade, e se essa comunidade é limitada nos seus costumes e tradições, como podem ter algo de melhor? Ninguém pode usufruir do que não está ao seu alcance, quando muito, apenas pode lutar por consegui-lo.
Podem parecer absurdas estas afirmações. Mas, se pudermos imaginar-nos nascidos, por exemplo, no meio da amazónia, como seriam as nossas atitudes? De índios, com certeza...
E aqui, dentro da comunidade portuguesa, com toda a riqueza da sua cultura... como seria o comportamento de um professor, o meu caso por exemplo se, ao invés de ter nascido dos pais que tive, viesse ao mundo numa comunidade cigana com todos os problemas que isso implica?
Quanto mais condições sócio-económicas, conhecimentos e capacidades tiverem as pessoas, mais responsabilidades têm na construção de um mundo melhor. Os bens usufruídos devem fazê-las mais compreensivas, carinhosas, pacientes e caritativas para com todos os outros a quem a sorte não concedeu tantas benesses. Usando as palavras, sim, mas não só... pois é preciso lutar contra as nossas más tendências e praticar boas acções.
Hermínia Nadais
Publicada no Notícias de Cambra
"Trabalhar para a construção de um mundo melhor" é frase corrente na linguagem de todos os cidadãos.
Falar é fácil!... Fazer da própria vida um meio de construir esse "mundo melhor" é difícil, delicado e controverso. Mas é o mais importante, urgente e necessário, não só para a integração social e realização pessoal de cada um, mas também, e mais ainda, para o desenvolvimento comunitário, para a paz e unidade entre os povos, as nações, o próprio Mundo. Discernindo o mais conveniente, caso a caso, entre o apelo à emoção ou à razão, cada um, em espírito e verdade, deve tentar descobrir a forma de conjugar estas duas forças em todas as situações ao longo da sua existência, de forma a obter cada vez maior respeito por si e pelo seu semelhante.
Ninguém pode dar o que não tem; ninguém pode desejar o que não conhece; ninguém pode usufruir do que para ele não existe...
Estas frases, assim soltas, parecem desprovidas de sentido; no entanto, estão directamente relacionadas com muitas realidades.
Os comportamentos sociais de qualquer comunidade são transmitidos de pais para filhos, de avôs para netos; assim sendo, passam a fazer parte integrante dos costumes e tradições dessa comunidade e de cada um dos seus membros.
Nos nossos dias, existem as comunidades mais díspares, algumas delas com costumes bem bizarros. É só prestar atenção a tantos documentários televisivos... E quanto mais primárias, mais difíceis de compreender e mais tenazes na defesa ou ataque. E todas lutam por valores que pensam ser os melhores.
Isto verifica-se desde os membros dos clãs às inúmeras religiões ou crenças, partidos políticos ou associações...
O reconhecimento do valor do ser humano em toda a sua plenitude e com todos os seus dons: carinho, amor, tolerância, compreensão... é apanágio dos seres mais cultos. Poderemos dizer que "cada povo tem a sua cultura", e é uma verdade; mas os valores atrás referidos não são pertença de uma cultura, são universais, devem caber "todos" em "todas" as culturas.
Mas, como podem ser transmitidos se não existem totalmente numa comunidade? Ninguém pode dar o que não tem.
E como pode uma comunidade querer melhorar os seus hábitos, se não sabe como é melhor, se não conhece outra forma de vida além da sua? Ninguém pode desejar o que não conhece.
Se as pessoas vivem em comunidade, e se essa comunidade é limitada nos seus costumes e tradições, como podem ter algo de melhor? Ninguém pode usufruir do que não está ao seu alcance, quando muito, apenas pode lutar por consegui-lo.
Podem parecer absurdas estas afirmações. Mas, se pudermos imaginar-nos nascidos, por exemplo, no meio da amazónia, como seriam as nossas atitudes? De índios, com certeza...
E aqui, dentro da comunidade portuguesa, com toda a riqueza da sua cultura... como seria o comportamento de um professor, o meu caso por exemplo se, ao invés de ter nascido dos pais que tive, viesse ao mundo numa comunidade cigana com todos os problemas que isso implica?
Quanto mais condições sócio-económicas, conhecimentos e capacidades tiverem as pessoas, mais responsabilidades têm na construção de um mundo melhor. Os bens usufruídos devem fazê-las mais compreensivas, carinhosas, pacientes e caritativas para com todos os outros a quem a sorte não concedeu tantas benesses. Usando as palavras, sim, mas não só... pois é preciso lutar contra as nossas más tendências e praticar boas acções.
Hermínia Nadais
Publicada no Notícias de Cambra