No desenvolvimento sociocultural do indívíduo é imperativo a existência da Escola, pois a Escola, "fruto das nossas vivências diárias", e a Escola, "Instituição", numa intercomunicação activa, completam as aprendizagens efectuadas por cada ser ao longo da sua existência.
O limiar da aprendizagem a efectuar é uma incógnita. O primeiro professor de uma criança, melhor, de um recém-nascido, ou de um ser que ainda nem sequer nasceu são os seus progenitores; depois, os restantes familiares e pessoas próximas. Se assim não fosse, como se justificaria a existência de tantos "sábios" analfabetos num passado ainda não muito remoto?
Na sociedade, quer queiramos ou não, todos, sem excepção, somos eternamente professores... e eternamente alunos... Naturalmente vamos construindo e solidificando a nossa aprendizagem com as atitudes dos outros e levando os outros a uma alteração comportamental assente na maior ou menor visualização e interiorização do exemplo a tirar das acções que vamos praticando.
Em face do exposto, surge a questão que, em uníssono, devemos proclamar:
-Como poderemos educar-nos, para podermos educar os que nos rodeiam?
De uma maneira geral, os problemas da Educação são colocados à Escola, onde trabalham os "professores profissionais" com a missão exclusiva de "Educar". A culpa das irreverências cometidas pelas crianças e jovens recai, acima de tudo, sobre o Sistema Educativo; depois, sobre a família, uma vez que grande parte dos nossos educandos provém de famílias com graves sequelas; o Meio Social também é lembrado, mas no final, e com muitas reticências. É que a "Sociedade", somos todos nós, e é difícil admitirmo-nos como culpados das infracções cometidas por essa "Sociedade" de que somos parte integrante.
Qualquer Homem é fruto da sua genética, ambiente familiar e meio socio-económico e cultural circundante; e para ser "Homem" em "plenitude", terá que viver de acordo com este triplo enquadramento extraindo dele todo o potencial necessário à sua realização pessoal e inserção social.
Não é tarefa fácil. Vamos desenvolver um pouco o primeiro ponto invocado.
A hereditariedade do ser, marca-o, para o bem, ou para o mal... Por mais que queiramos fugir desta realidade, ela persegue-nos indefinidamente.
A nível de Instituições Escolares ou outras Instituições Sociais, muito se tem feito para minorar o efeito nocivo da criação de semelhanças comportamentais entre pessoas oriundas das mesmas famílias; mas, mesmo assim, o filho de pais considerados "marginais" nem sempre é tido em parceria com o filho dos considerados "pessoas de bem". E, quando não, aparece "o certo" ou "o descalabro" de alguns provérbios populares:
-"Quem sai aos seus não degenera"; "a acha sai ao madeiro"; "filho de burro sai cavalo"; "filho de peixe sabe nadar"... que se aplicam muitas vezes para justificar a observação do bom ou mau procedimento das acções praticadas.
Quaisquer destas expressões são muito fáceis de admitir pelos sujeitos observados quando trazem consigo as boas qualidades que os seus progenitores possuíam; mas se se trata de algo de mau, normalmente, não são aceites pela pessoa a quem o provérbio se refere. E o mais grave é que, pedagogicamente falando, pode marcar o indivíduo pelo lado oposto, uma vez que o comportamento dos filhos nem sempre é como o dos pais, pois a sua educação não dependeu exclusivamente deles mas do triplo enquadramento supracitado que pode, de certo modo, mudar radicalmente as coisas.
Baseados nestes factos há outros provérbios que dizem:
-"Num bom pano cai uma nódoa"; "de uma boa geração sai uma (má) mulher ou um ladrão"...
Pela prática, sabemos que todos os provérbios apresentados descrevem puras e autenticas verdades em situações pontuais. A voz do povo é forte! A sabedoria popular é muito perspicaz e oportuna, tem sempre resposta para todas as situações.
E onde está a sabedoria popular? Quem é o povo?
O povo são as pessoas dispersas pelas mais díspares povoações. A sabedoria popular está nos seus conhecimentos empíricos, nos seus costumes cheios de sentido prático e ricos de experiência.
Onde está a génese desse povo? Onde é praticada e cultivada a sua sabedoria?
A génese de um povo está na sua constituição familiar que, sem dar por isso, transmite cabalmente a sua cultura e tradição até ao mais pequeno pormenor. Ao falar-se de um povo fala-se, indubitavelmente, das famílias por que esse povo é constituído, sejam essas famílias constituídas da forma que forem. As alterações de comportamentos sociais partem sempre da mudança de atitudes no seio familiar. E quando as famílias não têm as condições necessárias às mudanças desejadas, os atropelos surgem... o inesperado acontece!... E a sociedade, família alargada, passa a viver debaixo do jugo do provérbio popular que diz: "Casa onde não há pão todos ralham... e ninguém tem razão!"
Mas nada pode ser feito de um dia para o outro। A interiorização das novas atitudes a pôr em prática é lenta e tem de ser muito bem apresentada por alguns e muito bem compreendida e acatada por todos. Por todos, digo, porque os que apresentam soluções ou metas a seguir com segurança são os que mais têm que compreender as controvérsias que as suas palavras criam e de saber esperar, pacientemente, pelo fruto do seu árduo trabalho cujos resultados virão, sim, mas muito mais tarde...
Hermínia Nadais
Publicada no Notícias de Cambra