O sossego de não haver noticiários e emails a criticar governos e governantes, pessoas honestas ou desonestas, desprovidas ou importantes… foi “sol de pouca dura”. Viver de aparências ou julgar pelo que se ouve e vê leva a estes descalabros que nos entretêm a olhar as misérias dos outros e a esquecer das nossas… o que é muito pernicioso.
Quando vejo uma pessoa criticar outra(s) com autoridade e prepotência.. a primeira coisa que me vem à cabeça é que há muita falta de espelhos… daqueles espelhos que, em vez de nos mostrarem as silhuetas com que nos apresentamos em público nos apresentam a nossa ignorância e mesquinhez.
Olhar-se a esses espelhos invisíveis é sempre difícil, mas ajuda-nos a descobrir inúmeras coisas que, de outra forma, nunca conseguiríamos. Há várias formas de nos vermos nesses espelhos, cada qual com um resultado diferente: quando olhamos só as nossas qualidades ficamos com a sensação de que somos pessoas perfeitas, melhores do que todas as outras, o que, indubitavelmente, nos levará ao horrível defeito de, orgulhosamente, criticar e desprezar quem nos rodeia; se nos olharmos de forma depreciativa vendo só os nossos defeitos, também é deveras perigoso, pois cria em nós um tremendo complexo de inferioridade que nos fará sentir muito mal, piores que todos os outros; mas se no olharmos tal qual somos, com defeitos e qualidades… aos poucos, aprenderemos a tolerar melhor as imperfeições, tanto as dos outros como as nossas, e a realçar e desenvolver as qualidades, tanto as nossas como as dos outros. Ora esta é, sem dúvida, a única forma correcta de nos olharmos profundamente nesse espelho deveras especial, que não mostra nada ao olhar dos nossos olhos, mas nos faz viver mais intensamente o profundo sentir do nosso coração para nos saciar a sede de compreensão, amor, paz e realização pessoal e social.
Mas… cuidado com esses espelhos… pois a única imagem que podemos apreciar neles é a nossa. Nunca podemos avaliar as outras pessoas pela imagem que o nosso espelho nos der delas, porque as outras pessoas não têm os mesmos defeitos nem as mesmas qualidades que nós. Na verdade, nunca poderemos entrar no interior de outra pessoa para sabermos ao certo como ela é, além de que temos de ter a certeza de que não há duas pessoas iguais, pois cada pessoa é única e irrepetível, igual a si mesma e diferente de todas as outras.
Perante tudo isto podemos concluir que só uma pessoa interiormente equilibrada poderá ver nas pessoas com quem convive defeitos e qualidades, pois se vir só defeitos ou só qualidades, irremediavelmente, está psicologicamente abalada e necessita urgentemente que alguém a ajude a descobrir a verdadeira razão dos seus distúrbios emocionais.
Sabemos que há muita falta de valores, mas o bem e o mal vivem lado a lado com todas as pessoas, o que faz com que todas as pessoas tenham comportamentos certos e comportamentos errados, e é assim que temos de as ver… para não lhes lançar em cima as culpas de todo o mal que acontece. Mais do que nunca, na época que atravessamos, é preciso que todos sejamos “PESSOAS” coerentes e assumidas.
Que estes momentos de dificuldade por que todos nós, uns mais outros menos, estamos a passar, nos responsabilizem do bem que deveremos fazer para que no mundo, e principalmente no nosso Portugal, haja mais bem-estar, fraternidade e paz.
Não podemos esperar que a mudança das outras pessoas nos favoreça a vida, mas temos de mudar o suficiente para que aprendamos a ver os acontecimentos pelo seu lado positivo, de modo a que tudo possa correr melhor para toda a gente.
Boas férias!
Hermínia Nadais
Publicado no "Notícias de Cambra"