A época é
de festa, de convívio, de alegria, de lembranças! As grandes superfícies
comerciais chamam até elas imensos visitantes, e o comércio tradicional aparece
a dizer ao grande público que ainda existe para bem o servir. E por eles, e
para nós, as ruas aparecem mais iluminadas a lembrar constantemente a quadra
que passa. Embora a razão de todo este aparato se nos apresente meramente
comercial, convidando à compra de alguns presentes para acariciar os que nos
são queridos, o olhar a maravilha dessas luzes intermitentes e multicores, além
de nos encher os olhos, atinge-nos verdadeiramente o coração. A mensagem que
delas irradia convida-nos a um maior aprofundamento das nossas relações humanas
e a um maior esforço no sentido de dar mais atenção à nossa vida interior. É
que o homem é dotado de qualidades superiores a qualquer outra criatura carnal,
é um ser a quem o Criador concedeu traços indeléveis e semelhantes à Sua própria imagem, com uma vida imortal,
projectada para o além. É por esta razão que a criatura humana não pode
prescindir de uma crença que lhe mostre mais ou menos claramente a razão do seu viver e o fim para que foi criada. Só
neste contexto se pode compreender que o ter fé, o acreditar em alguma coisa, é
algo que faz parte integrante das necessidades vitais do homem.
Ter fé, no
verdadeiro sentido do termo, é acreditar em algo que se não vê. Ora, a parte do
homem que está à vista, o seu retrato físico, que corresponde à cor do rosto,
dos olhos ou do cabelo, ao aspecto franzino ou robusto, a toda a sua
fisionomia, embora sejam parte integrante da identificação do homem perante o
seu semelhante, não nos mostram, de forma alguma, o que esse homem é, na
realidade. É que o mais importante do homem não é visível aos olhos, é palpável
e sensível apenas ao coração. O homem só se conhece e se dá a conhecer, embora
nunca totalmente, através de uma convivência recíproca onde haja a promoção de
um diálogo aberto e franco, onde haja calma e serenidade, atenção e
compreensão, dedicação e doação, carinho, entrega, amor... Assim sendo, mesmo
só humanamente falando, a vida é um acto de fé contínua: logo em pequeninos,
acreditamos cegamente no pai, na mãe, em quem nos aconchega nos primeiros
passos; vamos crescendo, e sentimos necessidade de acreditar nos amigos;
acreditamos que as pessoas são sinceras connosco, que não nos atraiçoam, e que nos ajudam; acreditamos que, de entre
os amigos, há alguém que gosta um pouco mais de nós, a quem poderemos fazer
feliz e de quem poderemos receber felicidade; acreditamos nas coisas boas da
vida; acreditamos que temos a força necessária para vencer o mal;
acreditamos... acreditamos!... Não há ninguém que não tenha passado nem esteja
a passar, constantemente, por situações semelhantes a estas. Os actos de fé do
ser humano são constantes, fazem parte de todos os momentos da vida de todos os
dias e tendem a nunca mais acabar!... Então, se tivermos a dita de acreditar
nas belezas da vida olhando-a sempre pelo lado positivo, veremos os seus
momentos menos bons como deslizes passageiros, e teremos mais possibilidades de
virmos a ser pessoas realizadas e felizes; se, pelo contrário, somos
pessimistas e valorizamos em demasia o mal que nos vai acontecendo, a vida
deixa de ter sorrisos, a saúde e alegria vão-se dissipando, e a nossa
existência passa a ser de uma infelicidade sem limites, de amarguras
infindas!... E dizemos muito categoricamente: “Isto... só a mim é que acontece!...”
Ou então: “Tudo me chateia!...” E, pensamos que estamos certos, e que somos uns
azarados. Mas, no final de tudo resolvido, se pararmos um pouco para pensar,
acabamos por ver que não era nada assim, que todos aqueles sentimentos
desesperantes foram causados por tremendas revoltas interiores e enormes
egocentrismos que, ao conseguir manter-nos
preocupados connosco próprios nos levaram a não ver nada de bom a
acontecer-nos nem a aceitar admitir que muitas outras pessoas podem muito bem
ter vidas piores que a nossa. Quando
isto nos acontece, urge rever a nossa humildade e renovar a nossa
autoconfiança.
É muito
difícil acreditar no que quer que seja. A primeira coisa em que temos de
acreditar é em nós mesmos. Depois, temos que viver acreditando nas pessoas que
se relacionam connosco, cujas relações visíveis e palpáveis partem de um
interior sempre com algo desconhecido.
Assim
sendo, as crenças religiosas, exteriorizadas conforme as vivências de cada um
segundo a religião que professa, sentidas no mais íntimo do ser, são como que
um corolário das situações normais de cada vida. Ter fé é uma necessidade vital
do ser humano, pois mesmo os chamados ateus ou agnóstico, que se dizem sem
crença alguma, acreditam que não acreditam em nada, o que acaba por ser uma outra
forma de viver a fé.
Falar de
fé, é um tema inesgotável. Quero apenas referir uma coisa que me parece
importante. É que, qualquer crença que tenha por fim valorizar o todo da pessoa
humana e fomentar a paz e unidade entre os povos, é querida e bem-vinda,
porque, ao pôr em prática a lei do amor mútuo, leva-nos a viver segundo o fim
para que fomos criados.
Que esta
forma de encarar as diferentes situações seja uma breve realidade na vida de
todos nós.
Bom Natal e
próspero Ano Novo!
In "Notícias de Cambra" antigo... mas atual