quarta-feira, 18 de março de 2009
PORQUÊ... SÓ AGORA!
Há questões para as quais só o “tempo” poderá oferecer resposta convincente... mas... nem sempre o tempo tem o dom de trazer a resposta adequada para todas as questões?!...
Já tenho algumas boas primaveras de que muito me orgulho, mas esta está a ter, para mim, um sabor muito especial. Mesmo com o tempo invernoso, chuvoso e frio como não lembra, o Céu é muito mais azul e a Terra mais verde, as flores mais belas e o canto dos passarinhos mais suave e melodioso.
A Primavera é sempre o desabrochar de vida nova com o começo de novas vidas. Esse facto ressalta, claramente, a todos os olhares. Mas, na renovação do insondável mistério da vida, existem outros mistérios facilmente despercebidos, porque não palpáveis aos sentidos estritamente humanos.
Na Primavera decorre a maior parte do tempo da Quaresma; nela se renovam mais intensamente as Celebrações Pascais, com todas as suas doações. Estes acontecimentos, para muitos rotineiros e sem sentido, tornam-se, ininterruptamente, numa vivência única para todos e cada um. Prestando atenção às solicitações externas e internas que se nos vão proporcionando das formas mais diversas, poderemos constatar esta grande verdade.
Na estrada da vida, por onde caminhamos incessantemente, intercaladas com algumas pequenas rectas surgem as curvas mais sinuosas e inesperadas, cada uma com seu “quê” de especial. E é na passagem cuidada de todos os imprevistos dessa tortuosa via que a nossa vida se vai apresentando mais ou menos válida, mais ou menos segura de si perante tudo o que a rodeia, mais ou menos apta a conquistar outras paragens e transpor novos horizontes à procura de outros sabores da alegria de viver.
A Quaresma, sem dúvida, é o tempo ideal para nos abandonarmos loucamente nos braços carinhosos do “Pai” e aprendermos a manter-nos mais unidos a Ele, num diálogo permanente, forte e profundo; então, assim, já é um pouco mais fácil lançarmo-nos fortemente nesta aventura de vida, que nos traz o benefício de uma felicidade sem par. Não é preciso metermo-nos em façanhas de vulto, pois a vida será grande somente quando nos dedicarmos à perfeita execução das coisas mais pequeninas: é um amigo que necessita de consolo e a quem dirigimos uma boa palavra; é uma conversa que pede uma resposta brava e respondemos doce e carinhosamente; é a troca da comodidade e bem-estar pela alegria de um encontro; é a incompreensão que dá lugar à delicadeza de um carinho; é a indiferença substituída por uma mão aberta para dar; é o apagar da brusquidão por muito, muito amor... E nisto consistirá, realmente, a nossa “Páscoa”, a passagem de uma vida pouco útil à vivência da verdadeira utilidade de uma vida.
Trabalho difícil e moroso, mas não impossível! Para o conseguirmos, basta domar a nossa vontade à vontade do Pai seguindo as pisadas do Filho, o Verdadeiro Caminho, Verdade e Vida. Assumidos, sem receios ou preconceitos, comecemos a gozar a alegria deste modo de viver... já, neste momento... para que não venhamos a repetir os desabafos de muita gente: Porquê... só agora!
Hermínia Nadais
Publicada no Notícias de Cambra
segunda-feira, 9 de março de 2009
“As melhores coisas da vida!”
A vida é cheia de surpresas! E, por vezes, é um pouco parecida com o tempo: tanto está com sol radiante e estrelas reluzentes, como, de repente, as nuvens lhe escurecem o dia e lhe escondem a beleza da noite. No entanto, com sol claro ou nuvens escuras, o dia, é sempre o dia. Nele, a neve e a geada matam insectos e vermes daninhos; as grandes nuvens formam trovoadas ou somente deixam cair as suas águas; o vento é bem-vindo quando se apresenta como brisa suave e é mal aceite quando causa distúrbios nas suas correrias mais fortes, mas vai ajudando à conservação e reprodução de várias espécies de plantas; o Sol, aquece e dá luz ao dia, e a Lua, é a candeia da noite... É assim, no ciclo da vida do tempo. E, bem vistas as coisas, são as intempéries do mau tempo que nos podem levar a apreciar a maravilha do tempo bom. É a água dos dias feios e cinzentos que dá ao Sol a ocasião de utilizar o seu brilho incandescente para dar vida e crescimento às plantas e animais, alegrando-lhes e amenizando-lhes a existência.
Como é bela a natureza! Como é harmoniosa a ordem natural das coisas, que, no silêncio das suas acções, em tudo obedece às leis do Criador e O glorifica. Mas... como reage o ser humano, no meio de tudo isto?
Analisando fria e minuciosamente a atitude de cada homem face aos seus iguais e a todos os outros seres, é fácil concluir que, sendo a mais perfeita de todas as criaturas e que deveria ser a mais livre e responsável, tornou-se, realmente, num escravo da sua liberdade, o mais rebelde e anarquista de todos os seres, o que mais foge à razão para que foi criado.
Para que esta afirmação não leve os que se sentem mais bem comportados a fazerem mau juízo, aprofundemos um pouco o desenvolvimento do homem desde a sua génese.
Dotado de inteligência racional, superior a todos os animais, instituído dominador e senhor de toda a criação, é o único ser que, logo após o nascimento, não pode prescindir dos cuidados maternos ou de um seu substituto por incapacidade absoluta de cuidar de si; enquanto entre animais da mesma espécie, que são instintivos, em locais diferentes, se encontram comportamentos muito idênticos, as capacidades inatas do ser humano de pouco lhe poderão servir se o seu meio envolvente não for favorável a um desabrochar sereno da aprendizagem, pois o desenvolvimento gradual do homem tem mais a ver com o meio ambiente onde está inserido do que com os seus dotes congénitos. Dois homens supostamente com as mesmas aptidões, um nascido na Selva Amazónica outro na cidade de Lisboa, forçosamente que cada um será bem diferente do outro. Se superior ou inferior, não nos cabe fazer qualquer juízo, pois nada temos que nos possa dizer a tal respeito o que quer que seja.
A superioridade do homem perante o mundo que o rodeia, é nitidamente visível. Mas, a tentação de cada homem se julgar superior a outro homem, é muito pessoal, e, por tal, de difícil observação concreta, nunca se podendo afirmar com segurança que haja supremacia de alguém sobre outrem em qualquer caso pontual. Para compreender tudo isto, teremos que questionar-nos sobre onde estará, de facto, a superioridade do homem.
Para responder cabalmente a esta questão, teremos que admitir que as duas facetas em que se cimenta a constituição do homem, a corporal e a espiritual, têm interesses antagónicos entre si e complicam toda a percepção do conceito de superioridade. Se por o lado exclusivamente humano perdura a lei do mais forte, se tivermos em atenção a espiritualidade humana o homem será superior na medida em que se colocar ao serviço de todos os seus irmãos principalmente os mais desfavorecidos. Desta forma, a superioridade do homem não estará na sua força, prepotência ou arrogância, mas na sua paciência, doação, carinho, simplicidade, humildade, compreensão, atenção, coerência... não se medirá pela grandiosidade dos actos praticados, mas pelo amor com que se praticarem, valorizando, acima de tudo, as coisas mais pequeninas; não estará na crítica destrutiva e malfazeja, nos argumentos esquivos ou na procura de galanteios, mas no reconhecimento da fragilidade humana, na capacidade de aceitar o outro tal como ele é, na ajuda a quem precisa, no assumir das fraquezas próprias ou alheias, na coragem e força de conseguir sofrer em silêncio, perdoar e amar.
Todos fomos criados para conseguir grandes feitos através das nossas pequenas acções. Dependendo do como encaramos os acontecimentos, na quase generalidade dos casos, o que parece grande e bom não passa de uma mera aparência. Se para muitos o ser bom e o ser grande é calcar para crescer, não olhando a meios para atingir fins, para outros, o crescer mais e mais acaba por ser fruto de muitas pisadas. Custa muito, claro que custa, mas é o que dá mais felicidade, e felicidade duradoira. Procuremos não pisar nem ser pisados. Não corramos atrás de aparências fáceis nem nos deixemos iludir. Correndo no tempo pela estrada da vida, sigamos em frente, deixando para trás a cegueira da nossa ignorância e o vazio da nossa existência, certos de que buscamos, assim, as melhores coisas da vida.
Hermínia Nadais
Publicada no “Notícias de Cambra”
Como é bela a natureza! Como é harmoniosa a ordem natural das coisas, que, no silêncio das suas acções, em tudo obedece às leis do Criador e O glorifica. Mas... como reage o ser humano, no meio de tudo isto?
Analisando fria e minuciosamente a atitude de cada homem face aos seus iguais e a todos os outros seres, é fácil concluir que, sendo a mais perfeita de todas as criaturas e que deveria ser a mais livre e responsável, tornou-se, realmente, num escravo da sua liberdade, o mais rebelde e anarquista de todos os seres, o que mais foge à razão para que foi criado.
Para que esta afirmação não leve os que se sentem mais bem comportados a fazerem mau juízo, aprofundemos um pouco o desenvolvimento do homem desde a sua génese.
Dotado de inteligência racional, superior a todos os animais, instituído dominador e senhor de toda a criação, é o único ser que, logo após o nascimento, não pode prescindir dos cuidados maternos ou de um seu substituto por incapacidade absoluta de cuidar de si; enquanto entre animais da mesma espécie, que são instintivos, em locais diferentes, se encontram comportamentos muito idênticos, as capacidades inatas do ser humano de pouco lhe poderão servir se o seu meio envolvente não for favorável a um desabrochar sereno da aprendizagem, pois o desenvolvimento gradual do homem tem mais a ver com o meio ambiente onde está inserido do que com os seus dotes congénitos. Dois homens supostamente com as mesmas aptidões, um nascido na Selva Amazónica outro na cidade de Lisboa, forçosamente que cada um será bem diferente do outro. Se superior ou inferior, não nos cabe fazer qualquer juízo, pois nada temos que nos possa dizer a tal respeito o que quer que seja.
A superioridade do homem perante o mundo que o rodeia, é nitidamente visível. Mas, a tentação de cada homem se julgar superior a outro homem, é muito pessoal, e, por tal, de difícil observação concreta, nunca se podendo afirmar com segurança que haja supremacia de alguém sobre outrem em qualquer caso pontual. Para compreender tudo isto, teremos que questionar-nos sobre onde estará, de facto, a superioridade do homem.
Para responder cabalmente a esta questão, teremos que admitir que as duas facetas em que se cimenta a constituição do homem, a corporal e a espiritual, têm interesses antagónicos entre si e complicam toda a percepção do conceito de superioridade. Se por o lado exclusivamente humano perdura a lei do mais forte, se tivermos em atenção a espiritualidade humana o homem será superior na medida em que se colocar ao serviço de todos os seus irmãos principalmente os mais desfavorecidos. Desta forma, a superioridade do homem não estará na sua força, prepotência ou arrogância, mas na sua paciência, doação, carinho, simplicidade, humildade, compreensão, atenção, coerência... não se medirá pela grandiosidade dos actos praticados, mas pelo amor com que se praticarem, valorizando, acima de tudo, as coisas mais pequeninas; não estará na crítica destrutiva e malfazeja, nos argumentos esquivos ou na procura de galanteios, mas no reconhecimento da fragilidade humana, na capacidade de aceitar o outro tal como ele é, na ajuda a quem precisa, no assumir das fraquezas próprias ou alheias, na coragem e força de conseguir sofrer em silêncio, perdoar e amar.
Todos fomos criados para conseguir grandes feitos através das nossas pequenas acções. Dependendo do como encaramos os acontecimentos, na quase generalidade dos casos, o que parece grande e bom não passa de uma mera aparência. Se para muitos o ser bom e o ser grande é calcar para crescer, não olhando a meios para atingir fins, para outros, o crescer mais e mais acaba por ser fruto de muitas pisadas. Custa muito, claro que custa, mas é o que dá mais felicidade, e felicidade duradoira. Procuremos não pisar nem ser pisados. Não corramos atrás de aparências fáceis nem nos deixemos iludir. Correndo no tempo pela estrada da vida, sigamos em frente, deixando para trás a cegueira da nossa ignorância e o vazio da nossa existência, certos de que buscamos, assim, as melhores coisas da vida.
Hermínia Nadais
Publicada no “Notícias de Cambra”