quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

MOMENTOS INSUBSTITUÍVEIS


Se, à partida, é tão ambicionada e parece tão fácil a vida de aposentados, a realidade, às vezes, é um pouco diferente. Mesmo com as tarefas profissionais obrigatórias terminadas, ordenado no fim do mês, boa saúde e tempo livre, com tudo a andar, digamos, “sobre rodas”, há tantas surpresas!... Muito agradáveis, muito gratificantes, mas que exigem, por vezes, um pouco mais do que o que, de imediato, há para dar. Então, envidam-se esforços para que tudo seja possível. E consegue-se, não o que se quer, mas o que se pode depois de, como até ali, se tentar conciliar as coisas e escolher a tarefa mais urgente e precisa em determinada ocasião.
É muito bom sentir que somos úteis e necessários e que o tempo começa a escassear numa altura em que a todos parece que o temos de sobra. É que, ao chegar a esta fase da vida, o receio de uma inactividade passiva, da sensação de inutilidade e da pasmaceira de não se ter nada para fazer, leva à tentação de se partir à procura de novas aventuras, aliciantes e com oferta de enorme compensação. E encontram-se, é um facto. Trazem grande felicidade. Mas, bem cedo se fundem com tarefas que, sem que as procuremos, nos surgem, inerentes à nossa condição de filhos, pais e avós.
Situações novas, que nos propõem novas atitudes. Agora, que podemos, urge vivê-las, com toda a plenitude! São momentos insubstituíveis, tais como muitos outros que passaram... e dos quais, as urgentes actividades profissionais nos obrigaram a desviar a atenção que devíamos e queríamos e em que o contributo prestado, mesmo ficando muito aquém do desejo, foi superior a todas as forças possíveis naquela ocasião.
A vida tem várias fases, umas mais difíceis que outras, cada qual com sua característica própria. E quando chegamos a esta situação, ela já nos ensinou a aproveitar intensamente todos os seus momentos e a não perder nenhuma ocasião de realizar os nossos sonhos. É o que tentamos fazer.
Quando deparamos com amigos mais jovens, lá vem a frase habitual: “Agora é que estás bem! É passear e gozar! Quem me dera!”
É muito natural este modo de pensar. Mas, ainda bem que a vida é mais que gozo e passeio! Se fosse apenas isso, perderia o seu pleno sentido e cairíamos num vazio sem medida. A vida tem que ser algo mais, tem que ter outros objectivos, outras aspirações que nos mantenham vivos e activos. Se assim quisermos e pensarmos, por incrível que pareça, a vontade de levar a cabo todas as actividades de que gostamos e para que somos solicitados, é um facto; consegui-lo, grande parte das vezes, é uma enorme e complicada caminhada que, mesmo que não chegue sempre a bom termo, é um desejo que existe e nos conserva em plena juventude. Ainda que o peso dos anos nos entorpeça os músculos e faça fraquejar os ossos, a nossa mente sonha ininterruptamente e em cada dia aprendemos coisas novas. A vida é mais bela em todos os seus momentos.
Não percamos o Outono da nossa existência. Aproveitemos tudo o que tem de bom. Não joguemos tempo fora. Procuremos encontrar ou fazer amigos, nossos iguais, para quem a vida tenha um valor idêntico. Ajudemo-nos mutuamente. Tentemos ser mais abertos, francos, compreensivos, úteis, da melhor forma que pudermos. Dialoguemos com os mais jovens de modo a, com a nossa experiência, levá-los à descoberta do melhor aproveitamento de cada fase da vida, para melhor realização pessoal e felicidade de cada um. Demos à vida os horizontes deslumbrantes que ela tem, e que, à medida que o tempo avança, mais se abrem, diante dos nossos olhos.
Se a morte começa com o aparecimento da vida, a Vida começa com a morte. Vivamos esta realidade, e, ultrapassando as barreiras da alegria, que o Amor nos faça rejuvenescer e viver em Paz.
Sejamos felizes e espalhemos felicidade.

Hermínia Nadais
Publicada no "Notícias de Cambra"

sábado, 14 de fevereiro de 2009

“O SONHO... COMANDA A VIDA...”


Em qualquer etapa da vida deverá haver tempo para trabalhar, descansar, aprender, distrair-se, dedicar-se a alguma coisa de que se goste, muito embora esta última parte não passe, na grande maioria das vezes, de um simples sonho. No entanto, como “o sonho comanda a vida”, sonhar deveria ser tido, por cada pessoa, uma das mais importantes tarefas a realizar.
Sem pensarmos, de imediato, em nada que se relacione com “sonhar”, ao ouvirmos esta palavra lembramos logo as longas ou curtas noites de descanso que, com tantos sonhos à mistura, pelas recordações e sensações que nos trazem à memória, às vezes, mais nos parecem dias turbulentos. Mas, sonhar para comandar a vida pelo sonho, não fica por aqui. É que há dois modos distintos de sonhar: sonhar a dormir e sonhar acordado.
Diz-se que o sonhar a dormir é um escape do inconsciente. Há épocas em que nem sequer nos passa pela cabeça se sonhamos ou não; há outras em que, dependendo do que for lembrado do conteúdo dos sonhos, podem gerar-se situações de indiferença, momentos de felicidade, ou, até, de pavor. Os diversos sentimentos da pessoa em relação ao sonho nocturno parecem ter muito a ver com o seu estado de espírito ocasional e situações actuais da vida, com o autocontrole de cada um sobre as suas próprias emoções e sobre o exacto discernimento entre o sonho e a realidade que, não raras vezes, sem sequer disso nos apercebermos, mesmo sendo ideias de todo inconfundíveis, misturámo-las, quando adaptamos, de qualquer modo, o sonho à vida e a vida ao sonho. É um tremendo erro, porque, realmente, não são estes sonhos que comandam a vida.
O sonho que comanda a vida é aquele em que conseguimos sonhar acordados, enlevar-nos e enredar-nos nesse sonho de tal ordem que o sintamos parte integrante de nós, de modo a não conseguirmos viver sem ele. Enquanto sonho, é sempre uma situação muito agradável, pois, ainda que seja por breves momentos, sentimo-nos realizados e felizes, ou porque nos imaginamos como queremos, ou porque nos parece sentir ter o que pretendemos. Depois, o natural é adaptar o sonho à realidade, e neste caso, sim, devemos lutar acerrimamente por fazer do sonho uma realidade. Então, essa luta constante, passa a comandar e dirigir a vida, de forma positiva ou negativa, conforme o desejo da cada sonho.
Tenhamos muitos e bons sonhos destes que, de facto, comandam a vida: sonhos de felicidade, de alegria, de bem-estar, de prosperidade, de realização pessoal, de amor e de paz... Nesta época em que tanto se fala de falta de paz, que tenhamos muitos sonhos de paz, de paz e de amor, destas duas palavras que sempre andam juntas, destes dois sentimentos de todo inseparáveis, inconfundíveis, necessários e urgentes. Não há paz sem amor, não há amor sem paz. Não falemos de ausência de guerra, porque a paz vem depois da guerra, pressupõe a existência de guerra. Mas, uma guerra geradora de paz não se leva a cabo pela força das armas, move-se pela força do amor, da compreensão mútua, da doação de nós mesmos à causa do outro, do não fazer ao outro o que não queremos que nos façam a nós. Esta guerra não se vê a olho nú, sente-se no mais íntimo de cada ser e só o coração a sabe descobrir.
Até quando ficaremos à espera de que os sonhos comandem as vidas na procura da verdadeira paz?...
Não guardemos para amanhã o que pudermos fazer hoje. Amanhã poderá ser tarde.

Hermínia Nadais
Publicada no Notícias de Cambra

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Sinceramente...


A vida é bela! Sim, a vida é sempre bela! É, quando tudo corre bem; e é também, embora de maneira diferente, quando parece que tudo corre mal! A vida é beleza, mas a verdadeira beleza da vida não depende só da vida em si, mas da razão que se dá a qualquer acto que nela se realize. A beleza da vida depende da forma como encaramos as situações que nos apresenta; de como tentamos descobrir o que é bom; de como, no meio do mal, sabemos extrair o que é menos mau, ou até, quem sabe, o que é óptimo; da forma como conseguimos tirar proveito das horas boas ou difíceis, no sentido de obter as aprendizagens mais divergentes, precisas e invulgares, que serão, para nós, de uma riqueza sem par, quando formos surpreendidos por situações análogas.
É assim: Quando algo de mal acontece, o primeiro momento é de perplexidade, de aflição, de uma certa revolta e, por vezes, de desespero. Depois, entra-se na fase dos porquês. Porque aconteceu isto? Porque aconteceu aquilo?... E, passa-se ao momento dos como. Como vou conseguir ultrapassar esta doença, este desentendimento, esta incompreensão, este disparate? Que caminho devo seguir? Que resultados poderei alcançar?... De seguida, põem-se em prática as experiências mais díspares, todas as que consideramos eficazes para a resolução do nosso problema. E... finalmente, conseguimos acabar com ele, ou aprendemos a contorná-lo, e viver assim mesmo. Esta já é a fase de aceitação final.
Esta descrição parece caricata, pois para quem conhece um pouco de psicologia genética, poderá imaginar-se perante o desenrolar do desenvolvimento da aprendizagem do bebé. O esquema, é parecido. Mas, não! Estas são aprendizagens de pessoas bem adultas, bem maduras, bem capazes. Tenho pensado nisto muitas vezes. Tomando em consideração certas ocorrências que nos vão surgindo, em qualquer idade ou condição, acabamos por concluir que são elas que nos tornam adultos mais competentes, mas eternamente crianças, e eternos aprendizes... Cada caso é diferente do outro, e traz-nos vivências diferentes, adaptações diferentes, mudanças de vida diferentes, que nos fazem ficar diferentes, e nos tornam mais humanos, mais homens e mais mulheres.
Se a vida tem destas coisas, e se temos que viver a vida, temos que viver com elas. Porquê, arreliar-se? Porquê, vociferar? Porquê, não compreender? Porquê, ficar tristes ou acabrunhados? Porquê, não aceitar com muita alegria e resignação? No final da resolução de um grave problema, porque não olhamos bem dentro dos “seus olhos”, lá no “seu interior”, para ver o que tinha para nos ensinar? E, porque não, memorizarmos bem a lição?
Sinceramente... Tristezas não pagam dívidas! Revoltas, não levam a lado nenhum!... Vivamos na alegria e na confiança! Façamos do feio, o bonito! Demos beleza à vida! Ela merece!...

Hermínia Nadais
Publicada no “Notícias de Cambra”