Os dias continuam instáveis e motivadores de insegurança, mas a época é de férias! De uma ou outra forma devem ser bem aproveitadas! O ano é longo! O modo de viver cada vez mais difícil! É urgente recuperar forças! Forças físicas, morais, espirituais, todas as forças que nos comandam a vida no todo indivisível que cada um de nós é.
É imperativo que nos disponhamos a aprender a fazer férias repousantes.
As dificuldades sentidas nas bolsas das pessoas é grande! Enquanto se assiste a um aumento desmedido das fortunas já avultadas de meia dúzia de indivíduos em detrimento dos demais que estão cada vez mais pobres e com menos poder de compra, e muito menos do desejado encontro de alguns momentos aprazíveis de lazer, afigurasse-nos que esta época trará muito desencanto e desilusão. Temos que ser engenhosos para sairmos da crise o menos magoados possível.
Somos seres sociais por excelência, mas para aprimorar essa nossa faculdade não precisamos de procurar o ruído ensurdecedor de uma cidade engalanada! Bastar-nos-á o silêncio tranquilo de uma praia semi-deserta onde a frescura das ondas nos delicie o corpo e o canto do mar e das gaivotas nos enleve o espírito! Ou... por que não o desbravar dos montes maravilhosos que nos circundam, onde a brisa suave que balança as folhas enamoradas da doçura do sol nos acaricia o rosto, os passarinhos nos mimam com os seus chilreios e a mãe terra nos presenteia com tantas flores silvestres que nos deliciam o olfacto e preenchem o olhar?
Tanta beleza perdida... na busca de felicidades momentâneas que cansam em vez de dar repouso; nos atraem para fora de nós quando é urgentíssimo que olhemos bem dentro de nós mesmos onde geraremos ou não a felicidade; nos esvaziam bem as carteiras... e deixam ainda mais vazios os corações!...
Na ânsia desmedida de viver, acabámos por perder os melhores momentos da vida, porque não procuramos os lugares de silêncio acolhedor que promoverão o sossego, o descanso, a descoberta, a simplicidade, o sentido de estética, a imaginação, o amor à vida, a solidariedade, a partilha, a recuperação de energias, o verdadeiro encontro (connosco próprios, com o Infinito, com a família, com os amigos, com a natureza), a serenidade e a paz!
Não tenhamos ilusões! Os barulhos desnecessários baralham-nos! Temos que aprender a viver com o que temos, mas se tivermos possibilidade de escolher... que tenhamos a coragem de enveredar por algo que nos proteja e dignifique.
Santas férias!
A publicar no Notícias de Cambra
Hermínia Nadais
domingo, 29 de junho de 2008
terça-feira, 24 de junho de 2008
A MULHER E O TRABALHO
Estávamos na época da decadência da agricultura de produção extensiva, único meio de subsistência da quase totalidade da população.
As actividades agrícolas começavam muitas vezes antes do romper da aurora e terminavam muito depois do pôr do sol. Árduas e pouco lucrativas, levadas a cabo num ambiente socializante, cheio de calma e alegria, perdidas na grandeza incomensurável das nossas aldeias, já não eram modo de satisfação para as necessidades da vida de ninguém.
A emigração, sempre presente na vida das gentes das nossas terras, e que as levava para "além do mar", começou agora a fazer-se, massivamente, mas para a Europa.
Para os que não enveredassem por esta louca aventura, estava chegada a hora da grande acorrência ao trabalho fabril, o outro recurso imediato a ser aproveitado pelos agricultores.
E então, os homens e mulheres que outrora trabalhavam lado a lado sob um brilhante Sol doirado e escutando os cantos suaves das avezinhas na estonteante beleza campestre, eram agora drasticamente separados pela distância assustadora de centenas e milhares de quilómetros, ou, então, pelo ruído ensurdecedor da maquinaria industrial, entre as paredes frias das fábricas que lhes garantiam os recursos de vida.
A mulher deixou de ser a "florzinha de estufa"; o "objecto de adorno ou prazer"; a "procriadora"; a "dona de casa"; a "protegida"... para não ser tocada por ninguém; ou... a "escarnecida" e "humilhada", que para nada mais servia do que para servir o homem e ser sua escrava e da família. Foi-lhe concedido o direito à instrução que até ali lhe havia sido negado, por ser julgado desnecessário. Agora, ela precisava de aprender como o homem, pois, tal como ele, tinha de enfrentar as rivalidades sociais e o mercado de trabalho.
Por força da tradicional distribuição de tarefas entre homem e mulher, esta, passou a ter uma vida profissional dupla, fazendo em casa toda a lide doméstica e exercendo ainda uma outra profissão. Ora, esta nova situação social alterou radicalmente a maneira de pensar e estar na vida tanto do homem como da mulher.
A meu ver, está aqui a génese de quase toda esta problemática sem limites com que a sociedade actual se defronta.
Até ali, o homem sempre teve mais ou menos possibilidades de ter grupos de amigos e ir além da localidade onde vivia, mas a socialização da mulher limitava-se à pequena comunidade do lugar, aldeia ou freguesia. A religião dava opiniões favoráveis para protecção à família e incitava à compreensão e aceitação das dificuldades que fossem criadas, principalmente à mulher. Na escola, o menino e a menina eram separados, por salas ou por carteiras, e nem nos recreios podiam brincar juntos. Os meios de Comunicação Social eram escassos e inseguros. As pessoas conheciam-se bem e tentavam respeitar-se mutuamente. Tudo era favorável a um ambiente de resignação no sofrimento, de aceitação de sacrifícios, de respeito... mas, neste caso, mais da mulher pelo homem... procedimento este que ainda hoje nos tenta perseguir e que com muita realidade podemos apelidar de aberração.
Ora, esta vidinha da mulher transformou-se por demais. Ela iniciou a sua actividade fora da comunidade de origem, familiares e vizinhos... Pode conhecer novos amigos, ouvir opiniões diferentes do habitual, alargar os seus conhecimentos... ver!... e ser vista!... observar!... e ser observada!...
Na escola ou na fábrica, em casa ou na sociedade, ao lado do homem, a mulher mostrou inúmeras capacidades de trabalho e resistência nas tribulações. Estas vivências foram favoráveis ao seu desenvolvimento pessoal e realização profissional em que lhe é concedido reconhecido mérito.
Agora, deixemos para a próxima uma análise mais profunda de todas estas situações, para ver o que poderemos aprender com elas... porque... a vida é uma escola!
Hermínia Nadais
Publicada no Notícias de Cambra
segunda-feira, 16 de junho de 2008
A “Feira” de Santo António!
Gosto muito da minha cidade, mas detesto confusões. Então, quando há confusões na minha cidade... tento a todo o custo desviar-me dela para não me meter nas suas confusões. Porém... como para quase tudo é preciso ir à cidade... às vezes não há como fugir. Assim, acabei mesmo por visitá-la na sua época mais turbulenta, as Festas de Santo António.
Já na preparação do evento achei graça ao desenrolar apressado de todas as obras com o tempo do avesso a não dar jeito nenhum aos trabalhadores que tiveram de se atarefar por demais para terem tudo pronto na hora aprazada. A esta parte, e graças às minhas fugas, acabei por não sentir muito na pele o terrível sufoco da falta de estacionamento... já habitual... agora acrescido da falta de espaço que as super-citadas obras, sem dó nem piedade, retiraram à cidade.
Ainda durante a referida preparação, numa passagem pelo Santuário do “Rei” das festas, o Santo António, como é óbvio, tive que atravessar a avenida principal. Acreditem que senti saudade do tempo em que as feiras dos nove e vinte e três eram feitas ali... pois os numerosos comerciantes apinhados no centro da via pareciam-me muito mais estarem numa feira do que numa festa. Claro que pagam bem a estadia... e toda a gente precisa de ganhar a vida... mas bugigangas e mais bugigangas... num período de tantas dificuldades financeiras... enfim!
Não sei bem como isto tudo irá terminar. Durante estas noites a cidade tem-se enchido de gente, umas noites mais, outras menos! Amanhã é a noite das marchas, espero que cantem as maravilhas do Santo e a devoção que lhe tem o nosso povo, como é habitual. Mas a verdade verdadinha... com toda a certeza... é que na tarde do dia 13... celebrar-se-á uma Eucaristia e realizar-se-á uma Procissão em honra do Santo... e o resto... será feira... muita feira... com as representações de muitos artistas, comes e bebes, distracções e brincadeira! E chamamos a isto Festas de Santo António!
Não tenho nada contra as festas. E penso mesmo que o Santo Antoninho deverá ficar muito feliz por ver toda esta gente assim, satisfeita, mas que para ele pouco vai sobrar... é uma certeza!
Um acto solene como este, a Festa do Padroeiro, deveria mexer profundamente no nosso interior, no sentido de aprendermos a viver com mais aprumo no nosso comportamento moral, espiritual e humano. Será que é o que vai acontecer? Dependerá de todos nós!
Aproveitemos toda esta alegria contagiante para nos tornarmos pelo menos um pouco mais parecidos com Santo António!
Certos de que um Santo triste é um triste Santo, sejamos “santos alegres”! É a única forma de tornarmos Vale de Cambra bem maior e mais próspera e do Santo António ficar muito mais feliz com todos nós!
Que Ele esteja sempre presente na nossa vida para nos ajudar a sermos o que realmente devemos ser em toda e qualquer circunstância!
A publicar no Notícias de Cambra
Hermínia Nadais
terça-feira, 10 de junho de 2008
Armas da luz!...
Os distúrbios ambientais que a natureza nos vai proporcionando com todas as suas forças incontornáveis não retiram dos nossos olhares as belezas do mundo em que vivemos, cada vez mais fascinantes.
É bem fácil perdermo-nos na real vastidão dos continentes e na imensidão dos oceanos, mas o aperfeiçoamento dos meios de transportes e comunicações sociais aliados à implementação da informática aproximam e mostram de tal forma todos os recantos do planeta que cada vez se nos apresentam mais familiares e num mundo cada vez mais pequeno.
Nenhuma criatura normal imaginaria, há uma centena de anos, que veículos tão sofisticados pudessem rodar sobre a terra e cruzar os mares e os céus tão rapidamente encurtando tantas distâncias e unindo tantos povos!... Também era difícil, até há bem pouco tempo, prever que seria possível falarmos a olharmo-nos mutuamente em tempo útil a tantos milhares de quilómetros de distância... o que é uma realidade actual.
Parados no nosso espaço circundante e de olhos no pequeno écran descortinamos o mundo... o mundo em que os homens se movem através das imagens e o mundo dos homens em si mesmos na observação atenta e cuidada das palavras e gestos que denunciam claramente os seus comportamentos interiores e exteriores! E se nos colocarmos frente ao monitor e de mãos no teclado... quantas aprendizagens, quantas imagens, quantos pensamentos, quantas mensagens, quanto carinho, quanta ternura, quanto bem-querer, quanta satisfação, quanto crescimento social, moral e humano!...
Queixamo-nos muitas vezes das maledicências humanas, e temos a certeza que elas existem, pois os seres humanos são homens e mulheres livres que têm tentações difíceis de superar, não são anjos e não podem viver como tal.
Conscientes destas realidades, porque nos prendemos tanto na procura e crítica das maldades e desperdiçamos tão estupidamente as inúmeras ocasiões de enaltecer as maravilhosas qualidades e as aventurosas descobertas que saem do pensamento e das mãos humanas... para nos tornarem a vida tão mais fácil, atraente e acolhedora?
Não tenhamos ilusões! Temos que sonhar que seremos bons... e acreditar que os outros também o serão!... O sonho comanda a vida!
Com os nossos amigos e pessoas que connosco convivem, falemos da aceitação alegre e compreensiva das intempéries da vida, aprendamos a descobrir e mostrar o lado bom de um mau acontecimento, elogiemos as qualidades ao invés de apontar os defeitos.
Cultivemos a alegria e o gosto de crescer na bondade, compreensão e amor, pois essas serão, sem sombra de dúvida, as verdadeiras armas da luz que conduzirão a humanidade no caminho da harmonia, do desenvolvimento, da paz e da prosperidade.
Hermínia Nadais
In “Notícias de Cambra”
quinta-feira, 5 de junho de 2008
O TEMPO DE MUDANÇA
O processo da integração da mulher na vida de trabalho fora do lar trouxe à família um sem número de problemas de difícil e remota solução.
Foi um acontecimento inadiável face às exigências das dificuldades económicas familiares sempre crescentes e que a mulher, desta forma, ajuda a superar; e também urgente para o reconhecimento das suas faculdades que são diferentes, como é óbvio, mas em nada inferiores às do homem.
Ao serem criados homens e mulheres, para poderem viver juntos harmoniosamente, foi-lhes dado o dom da complementaridade. Se são complementares, de forma alguma podem ser iguais. E é neste facto que residem as grandes diferenças. E nenhum pode, com razão, julgar-se mais que o outro. Agora, já podemos proclamar categoricamente esta verdade. Mas ainda há pouco, por meras convenções sociais e por razões alheias à vontade de cada um, era inadmissível fazer tal afirmação. Não porque alguém fosse culpado, mas porque a vida social estava talhada assim e ninguém se atrevia a modificar as coisas.
Mas, como tudo tem o momento certo, chegou a hora da mudança.
A passos lentos, a vida da sociedade foi ficando diferente, e não se sabe onde e como tudo irá parar.
Com as enormes disparidades no comportamento social de cada um, homem ou mulher, em relação a esse passado tão próximo e que nos deixou traços indeléveis e marcas muito profundas, sem um acompanhamento capaz que não podia de forma alguma existir por ser de todo impensável pelo desconhecido do desenrolar das situações, estamos a atravessar uma das piores fases de integração sócio-familiar de todos os tempos.
E, porquê?
Este tem sido tema para inúmeras reflexões, mas nunca será demais pensar de novo:
Ao longo dos tempos, através de gerações a perder de conta, a mulher foi a fiel depositária das canseiras da educação e criação dos filhos e da lide doméstica com todas as suas implicações e cuidados...
O homem, considerado o sexo forte, tratava da orientação da família e seus haveres e da angariação do seu sustento. A mulher devia-lhe obediência e respeito... e tinha de aceitar e compreender todas as suas ordens, pedidos, e mesmo as infidelidades que até eram consideradas normais... pois o homem não podia viver de um outro modo... dizia-se.
O homem andava mais nos negócios e campo, e a mulher, além do trabalho da casa, ajudava-o nessas tarefas... e ali criavam os filhos que desde cedo se habituavam àquelas canseiras. Mesmo nas famílias mais abastadas, nas grandes herdades, a cena não era muito diferente. Os grandes senhores, estavam rodeados de trabalhadores, mas viviam também dos frutos que as terras davam.
Nestas famílias, havia as mulheres serviçais a quem na maior parte dos casos era negada a constituição de família ao lado das senhoras patroas que, pouco ou nada mais eram do que objectos de adorno e procriação dos grandes senhores que as dominavam, a elas, e a todos os que viviam dentro das suas propriedades. A diferença entre estas duas condições de mulher é que, enquanto uma vivia servindo os seus patrões, a outra era servida pelos seus criados e tinha que obedecer e servir ao seu marido, senhor absoluto de toda aquela complicada sociedade doméstica.
Em qualquer dos casos descritos, era negada à mulher qualquer tomada de posição face ao que quer que fosse. A servilidade da mulher, em geral, era cega e escravizante.
Mas, os campos e as pequenas comunidades artesanais começaram a não assegurar a sobrevivência dos que deles viviam e foram cedendo lugar ao aparecimento de novas indústrias onde os homens arranjavam emprego deixando as mulheres nas tarefas de casa e amanho da terra. Juntavam os seus proventos, mas não eram o suficiente.
A hora de mudança de atitudes comportamentais do homem e da mulher estava iminente, não havia outro remédio.
Hermínia Nadais
Publicada no Notícias de Cambra