Todos gostamos de ter dias felizes... mas grande parte das vezes... não obstante querermos mostrar a vida clara e transparente... ela acaba por parecer-nos uma tortuosa escuridão.
Estamos em pleno mês de Maio. Cá para os nossos lados há campos verdes ou com plantinhas a crescer por entre a escuridão da terra lavrada! Montes floridos de onde sobressai o amarelo das giestas, do tojo e da carqueja e o cor-de-rosa da urze! Algumas flores brotam nos jardins! Chilreiam passarinhos! Entretanto, as nuvens vão-se adensando no espaço teimando em esconder o Sol, em arrefecer os já longos dias, em deixar cair chuvas bastante continuadas. É a Natureza a fazer escuridão!
Noutros recantos do planeta a terra treme desmedidamente e os ventos e temporais devastam e arrasam as populações sem dó nem piedade. É a Natureza que continua a fazer a escuridão!
Um pouco por toda a parte furtam-se bens e vidas. O medo cada vez se torna mais numa constante e desoladora ameaça à tranquilidade e paz. As maravilhas da informática, em vez de serem aproveitadas como canais de aprendizagem de bons costumes e desenvolvimento e concretização de saberes muitas vezes acabam por servir a difusão de ideais perversos e subversivos. A “plebe” atropela-se na busca dos meios de sobrevivência, os senhores do mundo alargam os seus proventos vertiginosamente, os políticos são homens e mulheres com todas as qualidades e defeitos que daí advêm acrescidos daqueles que são apanágio das pessoas que se habituam a ocupar cargos de poder e chefia. Os bons costumes são muitas vezes estupidamente vistos como coisa do passado e os valores humanos e cristãos são cada vez menos frequentes. Agora, é o próprio “homem” a fazer a escuridão!
Aqui e além erguem-se e vão-se multiplicando algumas luzes a mostrar o caminho do bem... mas o nevoeiro da ilusão, que não quer deixar propagar essa luz... vai cegando os olhos de quem tem pouca força para caminhar e não encontra quem o puxe pela mão. É a falta de solidariedade a fazer a escuridão.
No meio das amarguras da vida a desilusão e o cansaço vão-nos fazendo perder as energias positivas... e quando isso acontece... é o ser que faz a sua própria escuridão e muitas vezes acaba por não conseguir sair dela sozinho!
Como tenho saudades dos Maios solarengos no corpo e no espírito... das corridas na busca das flores silvestres... dos sorrisos francos de tantos amigos leais... e do encontro comigo mesma na doce tranquilidade do trabalho simples e pouco remunerado... mas onde se sentia o aconchego carinhoso de um pai e de uma mãe unidos em corpo e alma... o amor sincero e desinteressado de um vizinho... a escuta solidária de um companheiro ou companheira!...´
Se existem amigos agora... existem... é uma verdade... mas mais do que nunca só muito bem escolhidos.
Não consigo entender como numa época de tantas luzes pode haver tanta escuridão!... Satisfaz-me o saber que cada um de nós pode ser luz... e resta-me incentivar a que cada um procure sê-lo de verdade, pois é um trabalho individual para o bem de todos!
Coragem e determinação! O mundo precisa que deitemos mãos à obra!
Hermínia Nadais
Publicada no Notícias Cambra