Faz alguns anos que vou passar o início da noite de São João na cidade do Porto.
É um espectáculo lindo de se ver. Por toda a parte churrasqueiras acesas. No ar, por entre as mais variadas músicas, o cheiro das fêveras, entrecosto, caldo verde e sardinha assada… petiscos que, saboreados com as gostosas saladas, doces e frutas, à mistura com muito carinho, aconchego e ternura, enchem-nos a alma e o coração da alegria mais inebriante.
Um das minhas atitudes preferidas nesta noite é seguir o rasto dos inúmeros balões que rasgam o céu e observar a lançada dos que descolam por ali, um pouco mais perto dos meus olhos curiosos.
Este ano, no bairro onde me encontrava, escolheram fazer o lançamento dos balões na escadaria em frente. Lançaram o primeiro e o segundo, e, enquanto recordava com alguma nostalgia o enorme balão colorido que outrora fizemos na Escola e não conseguimos fazer subir, decidi prestar muita atenção a todos os passos do terceiro lançamento. Antes de mais, desdobraram e abriram o balão, sacudiram-no e seguraram-no de pé. Num entrançado que havia no buraco do fundo colocaram qualquer coisa a arder. Depois, esperaram até que o balão despegasse lentamente das mãos das pessoas para iniciar a sua viagem rumo às alturas.
Enquanto isto reparei que, a pouca distância do fundo, havia uns buraquinhos pequenos a circundar a entrada. Foi então que compreendi a razão porque o maravilhoso balão da nossa Escola, sem esses buraquinhos, urgentes ao fornecimento do oxigénio necessário à combustão da mexa, inevitavelmente, o balão não podia subir pela ausência de ar quente no seu interior.
Fazer subir um balão pode parecer uma operação fácil, mas é extremamente delicada! E o vaivém dos balões perdidos no espaço deram-me para pensar que a nossa vida é um pouco assim. Quando começa, somos pequeninos como o balão fechado, à espera que alguém nos cuide convenientemente para podermos crescer sem distúrbios de maior.
E por mais que a passagem do tempo nos faça crescer… temos, indefinidamente, que nos olharmos profundamente para, aos pouquinhos, irmos descobrindo ao certo como somos de modo a verificar o sítio exacto onde poderemos continuar a acender a nossa mexa, ou seja, a encontrar o caminho do verdadeiro amor para que fomos criados e cuidar muito bem desse amor afastando-nos de tudo quanto o possa destruir.
No final da nossa caminhada… tal como os balões do São João desaparecem no espaço… desaparecemos da vista dos nossos irmãos para continuarmos a nossa caminhada de busca do verdadeiro amor numa outra dimensão da vida.
Que consigamos ser balões fortes e coesos é o que mais desejo!
Hermínia Nadais
Publicado no Notícias de Cambra