quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Foi tão maravilhoso e profundo!...


Encanta-me a ideia de estar em casa, mas tenho que admitir que fora da terra se encontram, muitas vezes, comportamentos a que devemos prestar toda a nossa atenção.
Sempre que a vida permite gostamos de estar na Torreira durante as festas do São Paio, onde tudo nos encanta. Mas este ano encantou muito mais, foram momentos inesquecíveis.
Tanta gente como naquela Eucaristia, concelebrada por oito sacerdotes e dois diáconos, no pequeno palco frente à Capelinha do Padroeiro, só mesmo no recinto de Fátima! Representantes das Autarquias e outras Instituições de relevo marcaram presença logo na primeira fila. O enorme grupo formado por elementos de todos os grupos corais da Paróquia entoava os Cantos Litúrgicos com a maior perfeição, entusiasmo, harmonia e beleza!
Na Homilia, o jovem Pároco e presidente da concelebração, enalteceu, ao lado da vida de amor e fortaleza do São Paio, a presença das multidões, ali na Eucaristia, no tão afamado fogo-de-artifício, nas rusgas e regatas, nos conjuntos musicais, nas mais diversas compras feitas naquelas barracas que mais lembram as feiras… pois, dizia ele – “tudo faz parte do programa das festas e com tudo se louva a Deus!”
Chegada a hora de repartir a Comunhão, os Sacerdotes e Ministros distribuíram-se por todo o lado, espalhando afagos e sorrisos.
No final, o Presidente lembrou que a Eucaristia terminava só na Igreja, no final da Procissão, que logo devia começar a organizar-se, tal como o costume, com as entidades a ocupar os lugares determinados, bem assim como os andores e demais elementos.
Lentamente… marinheiros, barcos, redes, bandeiras, grupos folclóricos, bastantes andores… e entre eles… mães ou outros familiares e empurrar carrinhos de bebés vestidos não se sabe bem de quê, velhinhos e velhinhas a acompanhar netos “anjinhos” ou “santos”, tudo com uma imensa delicadeza e paz.
Para cada andor havia uma equipa de pessoas, que se reconhecia pela roupa, toda ela igual. 
A ladear a extensa via por onde passava, inúmeras pessoas olhavam a Procissão. A dona de uma barraquinha de doces levantava a corda presa no outro lado da estrada, para que os andores e bandeiras pudessem passar à vontade.
Furei por entre as pessoas, pois quis entrar na Igreja para sentir o delírio final daquela magnífica manifestação de fé! Estava mais que repleta!
Então, o Pároco, visivelmente feliz, agradeceu a presença e o trabalho e dedicação de todos para o sucesso da festa. E terminou, dizendo:
-“As cerimónias em honra do São Paio chegaram ao fim, mas as festas, não! Que continueis, até ao final, a comer e conviver com as vossas famílias, a fazer as vossas compras, a receber os vossos prémios… tal como tiverdes previsto, pois com tudo se louva a Deus! Que o São Paio vos proteja!”
Revi-me em muitas pessoas desta procissão!… Lembrei, por exemplo, a revolta da minha filha quando a vesti de anjo para participar numa procissão parecida! Hoje… não faria isso! Mas… com Deus… nada está mal! Aprende-se a viver, vivendo… e só se cresce na fé praticando actos de fé e sendo acolhido por quem tem o dever de nos instruir na fé.  
Quando as pessoas que andam pelas igrejas não se julgarem “tão importantes” e forem capazes de acolher aquelas que poucas vezes lá vão e louvam a Deus das mais diversas maneiras, como sabem ou podem… tudo será bem diferente!
Desculpem os meus desabafos, mas foi deveras surpreendente, não consegui ficar calada!

Hermínia Nadais

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Mudar… mas apenas o nome



Há dias, numa conversa com um grande e jovem amigo, foi-me sugerido um novo título para as minhas crónicas. Anotei a sugestão… e aceitei-a! Espero que as minhas “Orientações para a vida” continuem a ter algo que mereça a pena reflectir, pois mudei, sim… mas apenas o nome! O conteúdo partirá sempre do desejo de partilhar as minhas aprendizagens e experiências.
Hoje, não sei bem por onde começar, pois os acontecimentos que nos vão chegando, muitos deles pouco agradáveis, afogueiam-nos a inspiração.
Somos seres sociais, pelo que não podemos retirar o impacto da nossa vida na sociedade que, queiramos ou não, ficará indelevelmente marcada pelos nossos exemplos, para o bem ou para o mal. E as pessoas não esquecem com facilidade o que fazemos.
Ainda que a noite dos tempos pareça ter força capaz de apagar os nossos comportamentos, eles ficarão indelevelmente marcados, para sempre, no interior de cada pessoa com que nos relacionamos. E quando se diz que as pessoas têm memória curta, estamos a usar um disfarce esfarrapado, pois os tempos das memórias curtas, onde é que ele vai!… É só estar atento ao que se passa à nossa volta!
Cada ser humano é uma espécie de computador de tamanho inimaginável que, ao acumular dentro de si tudo quanto o envolve, deixa transparecer de si tudo quanto o envolveu! Somos o produto da sociedade em que vivemos!...
Fico muito magoada quando me apercebo de incoerências, das minhas, das dos meus familiares, amigos e amigas, e principalmente das dos nossos governantes; mas também fico muito abatida quando oiço dizer tanto mal… de tudo e de todos.
Será que não conseguimos interiorizar convenientemente que todas as pessoas têm coisas boas e más? Será que não conseguimos viver sem estar constantemente a dizer mal de alguém? Será que nunca mais nos apercebemos de que falar no mal é torná-lo cada vez mais presente e apetecível? Será que vamos continuar na busca da destruição em vez de extrair do fundo da nossa imaginação sonhos agradáveis e inovadores para nos comandar a vida? Será que não nos apercebemos que estamos a dar aos nossos filhos e netos uma educação de escárnio e maldizer?
Temos que ter presente que o “ser pessoa” se cultiva desde o primeiro instante da nossa existência. E neste contexto, urge reflectir um pouco sobre o que nos foi mostrado e dito quando éramos bebés, crianças e jovens, pois o que vimos, ouvimos e sentimos, nessas ocasiões, são as maiores razões de sermos hoje aquilo que somos.
Passámos a vida a falar da corrupção… da corrupção dos outros… e como está a nossa? Será que somos assim tão incorruptos? É muito fácil ver a corrupção quando ela é muito grande… mas temos de convir que, antes de ser grande… tudo é pequeno! Será que, no nosso dia a dia, nunca tentámos enganar ninguém? Como convivem, os nossos filhos e netos, com os colegas e professores, nos bancos das escolas?!... “É de pequenino que se torce o pepino!”
Se queremos uma sociedade mais justa e fraterna, comecemos por nós mesmos, praticando a justiça nos pequenos nadas da vida e procurando dar bom exemplo a quem nos rodeia, certos de que, “Quem é fiel no pouco, será fiel no muito!”
Um bom ano de trabalho, cheio de compreensão, justiça, perdão, amor e paz!

Hermínia Nadais
 A publicar no "Notícias de Cambra"