segunda-feira, 25 de julho de 2011

O Balão



Faz alguns anos que vou passar o início da noite de São João na cidade do Porto.

É um espectáculo lindo de se ver. Por toda a parte churrasqueiras acesas. No ar, por entre as mais variadas músicas, o cheiro das fêveras, entrecosto, caldo verde e sardinha assada… petiscos que, saboreados com as gostosas saladas, doces e frutas, à mistura com muito carinho, aconchego e ternura, enchem-nos a alma e o coração da alegria mais inebriante.

Um das minhas atitudes preferidas nesta noite é seguir o rasto dos inúmeros balões que rasgam o céu e observar a lançada dos que descolam por ali, um pouco mais perto dos meus olhos curiosos.

Este ano, no bairro onde me encontrava, escolheram fazer o lançamento dos balões na escadaria em frente. Lançaram o primeiro e o segundo, e, enquanto recordava com alguma nostalgia o enorme balão colorido que outrora fizemos na Escola e não conseguimos fazer subir, decidi prestar muita atenção a todos os passos do terceiro lançamento. Antes de mais, desdobraram e abriram o balão, sacudiram-no e seguraram-no de pé. Num entrançado que havia no buraco do fundo colocaram qualquer coisa a arder. Depois, esperaram até que o balão despegasse lentamente das mãos das pessoas para iniciar a sua viagem rumo às alturas.

Enquanto isto reparei que, a pouca distância do fundo, havia uns buraquinhos pequenos a circundar a entrada. Foi então que compreendi a razão porque o maravilhoso balão da nossa Escola, sem esses buraquinhos, urgentes ao fornecimento do oxigénio necessário à combustão da mexa, inevitavelmente, o balão não podia subir pela ausência de ar quente no seu interior.

Fazer subir um balão pode parecer uma operação fácil, mas é extremamente delicada! E o vaivém dos balões perdidos no espaço deram-me para pensar que a nossa vida é um pouco assim. Quando começa, somos pequeninos como o balão fechado, à espera que alguém nos cuide convenientemente para podermos crescer sem distúrbios de maior.

E por mais que a passagem do tempo nos faça crescer… temos, indefinidamente, que nos olharmos profundamente para, aos pouquinhos, irmos descobrindo ao certo como somos de modo a verificar o sítio exacto onde poderemos continuar a acender a nossa mexa, ou seja, a encontrar o caminho do verdadeiro amor para que fomos criados e cuidar muito bem desse amor afastando-nos de tudo quanto o possa destruir.

No final da nossa caminhada… tal como os balões do São João desaparecem no espaço… desaparecemos da vista dos nossos irmãos para continuarmos a nossa caminhada de busca do verdadeiro amor numa outra dimensão da vida.

Que consigamos ser balões fortes e coesos é o que mais desejo!


Hermínia Nadais
Publicado no Notícias de Cambra



domingo, 10 de julho de 2011

Novos horizontes!...


Esta rubrica foi criada como espaço de partilha para as pessoas de cada religião ou crença terem oportunidade de expor livremente a forma de viverem a sua espiritualidade.

O importante é tentar dar à vida novos horizontes. O facto de ter havido pouca aderência não me deixa minimamente frustrada nem surpreendida! Cada um é livre de fazer o que muito bem quer, pode, deve ou entende!

Em grande parte das pessoas, mesmo nas que mais nos parecem viver sob as orientações expressas de uma qualquer religião, a permissividade, o alheamento, a omissão, a passividade e falta de coerência e compromisso são uma constante. E neste contexto, para não caírem nas críticas ou coações que magoam, têm dificuldade de levar a público a forma comunitária ou pessoal de pensar e agir, pois exige uma vivência mais profunda de tudo o que se diz acreditar.

Aquando da celebração das Festas Pascais, tal como noutras ocasiões, fui convidada para tomar parte em celebrações de outras comunidades religiosas. Não tenho nada contra religião alguma, mas ainda não me sinto suficientemente preparada para participar convenientemente e sem constrangimentos nas vivências de fé que não sejam daquela que Deus me vai dando todos os dias e que, na minha condição de católica confessa, cada vez sinto mais necessidade de comunicar. Não de forma camuflada como tenho feito até aqui, mas a mostrar às claras e muito abertamente a vivência do catolicismo livre de rotinas e ritos e assente na plena vivência do verdadeiro amor a Deus e aos irmãos.

Os cristãos são os seguidores de Jesus Cristo, para quem a Bíblia é o Livro Sagrado, ainda que com diferentes formas de leitura, interpretação e meditação. Há um sem número de religiões cristãs com as mais variadas formas de expressar a fé, e tenho a certeza de que todas têm momentos fortes de encontro profundo com Deus em Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado que se nos revelou de forma incomparável como o Homem mais humano de todos os tempos.

De entre todas as religiões cristãs, a universalidade da Igreja Cristã Católica leva a que nela se possam inserir pessoas de todas as raças ou cores, costumes ou tradições. Qualquer pessoa pode aderir ao catolicismo.

Católicos são todos os que se encontram ligados à Igreja que os Apóstolos à volta de Pedro fundaram, orientados pela vida e Palavras de Jesus e inspirados pelo Espírito Santo de Deus, Baptizados pelo Espírito na água e no fogo.

Fico perturbada quando olho para a vida da esmagadora maioria de todos esses Baptizados… que não condiz com as exigências do Sacramento do Baptismo.

Portugal não é mais o País Católico que outrora foi. É um País de índole católica e com a população quase toda baptizada… mas a esmagadora maioria dos portugueses são católicos só de nome, porque as suas vivências pouco ou nada têm a ver com catolicismo.

Somos seres sociais! O que um faz… influencia o comportamento do outro! Urge abrir novos horizontes à sociedade, a começar pelas pessoas mais ligadas às funções da Igreja, pois precisam de ser mais coerentes e dar melhores exemplos… uma vez que será do bom procedimento dos católicos que afluirão mais pessoas ao catolicismo… e serão abertos ao mundo novos horizontes.


domingo, 3 de julho de 2011

A dimensão Humana

Diz-nos a Wikipédia que “a Espiritualidade é uma dimensão da pessoa humana que traduz, segundo diversas religiões e confissões religiosas, o modo de viver característico de um crente que busca alcançar a plenitude da sua relação com o transcendental. Cada uma das referidas religiões comporta uma dimensão específica a esta descrição geral, mas, em todos os casos, se pode dizer que a "espiritualidade" «traduz uma dimensão do homem, enquanto é visto como ser naturalmente religioso, que constitui, de modo temático ou implícito, a sua mais profunda essência e aspiração».”

Fiquemo-nos por esta definição. E basta-nos esta definição porque sendo espiritualidade “o modo de viver característico de um crente que busca alcançar a plenitude da sua relação com o transcendental” esta é uma experiência individual, quase sempre única, pois que cada homem é também ele único. Por este prisma, a religiosidade é essencial, a religião é acessória, porque a religião é exterior ao homem, a religiosidade é um sentimento íntimo. E este é que liga a Deus, que é, digamos, uma consciência cósmica em que tudo mais se move.

Viver a espiritualidade, ou ser espiritualista, se assim se preferir, não implica necessariamente ser cristão, e quando dizemos algo tipo “para mim, espiritualidade é Jesus Cristo e os ritos católicos”, não afirmamos mais do que a nossa visão pessoal desta questão, que não tem de estar mais certa do que a visão pessoal de um budista, por exemplo. Qualquer um que limite a sua espiritualidade aos aspetos exteriores de religião permanece aquém do que é realmente importante, que é, em poucas palavras, viver o amor.

Aliás, a religião do Cristo planetário (do Cristo do planeta Terra), Jesus, é a do amor e mais nenhuma. Todo aquele que ame, pratica a religião do Cristo; todo aquele que não ame, cataloga-se eventualmente em algo que os homens inventam enquanto procuram o que satisfaça a sua mais profunda essência e aspiração.

Se já estamos capazes de minimamente amar estamos também capazes de tolerar o que tem um entendimento de espiritualidade diferente do nosso; um passo mais à frente, estaremos capazes do diálogo ecuménico, que é uma maneira de melhorarmos a nossa religiosidade libertando-nos um pouco das às vezes pesadas amarras das religiões que seguimos.

A. Pinho da Silva

PS: É muito bom podermos enriquecer-nos das vivências e saberes partilhados, para que todos consigam ascender cada vez mais à aprendizagem e crescimento do verdadeiro amor.

H. N.

Publicado no "Notícia de Cambra"