segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Precisamos de “espelhos”


O sossego de não haver noticiários e emails a criticar governos e governantes, pessoas honestas ou desonestas, desprovidas ou importantes… foi “sol de pouca dura”. Viver de aparências ou julgar pelo que se ouve e vê leva a estes descalabros que nos entretêm a olhar as misérias dos outros e a esquecer das nossas… o que é muito pernicioso.
Quando vejo uma pessoa criticar outra(s) com autoridade e prepotência.. a primeira coisa que me vem à cabeça é que há muita falta de espelhos… daqueles espelhos que, em vez de nos mostrarem as silhuetas com que nos apresentamos em público nos apresentam a nossa ignorância e mesquinhez.
Olhar-se a esses espelhos invisíveis é sempre difícil, mas ajuda-nos a descobrir inúmeras coisas que, de outra forma, nunca conseguiríamos. Há várias formas de nos vermos nesses espelhos, cada qual com um resultado diferente: quando olhamos só as nossas qualidades ficamos com a sensação de que somos pessoas perfeitas, melhores do que todas as outras, o que, indubitavelmente, nos levará ao horrível defeito de, orgulhosamente, criticar e desprezar quem nos rodeia; se nos olharmos de forma depreciativa vendo só os nossos defeitos, também é deveras perigoso, pois cria em nós um tremendo complexo de inferioridade que nos fará sentir muito mal, piores que todos os outros; mas se no olharmos tal qual somos, com defeitos e qualidades… aos poucos, aprenderemos a tolerar melhor as imperfeições, tanto as dos outros como as nossas, e a realçar e desenvolver as qualidades, tanto as nossas como as dos outros. Ora esta é, sem dúvida, a única forma correcta de nos olharmos profundamente nesse espelho deveras especial, que não mostra nada ao olhar dos nossos olhos, mas nos faz viver mais intensamente o profundo sentir do nosso coração para nos saciar a sede de compreensão, amor, paz e realização pessoal e social.
Mas… cuidado com esses espelhos… pois a única imagem que podemos apreciar neles é a nossa. Nunca podemos avaliar as outras pessoas pela imagem que o nosso espelho nos der delas, porque as outras pessoas não têm os mesmos defeitos nem as mesmas qualidades que nós. Na verdade, nunca poderemos entrar no interior de outra pessoa para sabermos ao certo como ela é, além de que temos de ter a certeza de que não há duas pessoas iguais, pois cada pessoa é única e irrepetível, igual a si mesma e diferente de todas as outras.
Perante tudo isto podemos concluir que só uma pessoa interiormente equilibrada poderá ver nas pessoas com quem convive defeitos e qualidades, pois se vir só defeitos ou só qualidades, irremediavelmente, está psicologicamente abalada e necessita urgentemente que alguém a ajude a descobrir a verdadeira razão dos seus distúrbios emocionais.
Sabemos que há muita falta de valores, mas o bem e o mal vivem lado a lado com todas as pessoas, o que faz com que todas as pessoas tenham comportamentos certos e comportamentos errados, e é assim que temos de as ver… para não lhes lançar em cima as culpas de todo o mal que acontece. Mais do que nunca, na época que atravessamos, é preciso que todos sejamos “PESSOAS” coerentes e assumidas.
Que estes momentos de dificuldade por que todos nós, uns mais outros menos, estamos a passar, nos responsabilizem do bem que deveremos fazer para que no mundo, e principalmente no nosso Portugal, haja mais bem-estar, fraternidade e paz.
Não podemos esperar que a mudança das outras pessoas nos favoreça a vida, mas temos de mudar o suficiente para que aprendamos a ver os acontecimentos pelo seu lado positivo, de modo a que tudo possa correr melhor para toda a gente. 
Boas férias!  

Hermínia Nadais 
Publicado no "Notícias de Cambra"

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Festas e Romarias Populares


Sinceramente… eu não queria debruçar-me sobre este assunto… mas numa rubrica sobre espiritualidade isto encaixa-se mais que bem.
Nunca é demais lembrar: “espiritualidade” é um tema comum a todas as pessoas; espiritualidade cristã é a vivência de todos os que, de algum modo, acreditam em Jesus Cristo.
De entre estes últimos os cristãos católicos são muitas vezes criticados pelas suas vivência cristãs. Há um sem número de situações dúbias que teremos de aprender, e eu gostaria de começar a desfazer alguns mal-entendidos, a começar pelas Festas e Romarias Populares, quase que transformadas em enormes feiras e parques de diversões.
Os meses de Verão são os mais propícios a essas Festas e Romarias, sempre feitas em louvor do Senhor Jesus, da Virgem Maria ou de um Santo qualquer. Se nos debruçarmos a sério sobre as suas origens, veremos que cada uma delas tem a sua história muito própria e muito coerente com a razão da sua existência.
Normalmente, festas, são homenagens a alguém; romarias são agradecimento de algo!
Por norma, só homenageamos as pessoas que conhecemos. E agradecemos às pessoas que nos agraciaram com alguma benesse.
Tenho presente que os católicos se sentem muito lesados se os outros cristãos os criticam da prática das romarias, e às vezes chocam-se mesmo até com os Padres quando os encaminham para onde eles acham que não devem ir.
Sabemos que cada um é livre de viver como sabe e muito bem entende no respeito pela liberdade dos outros, por isso achamos que é urgente interiorizar a verdadeira vivência das Festas e Romarias, de modo a fazer delas aquela esplendorosa Manifestação de Fé que se quer mostrar quando se realizam as tradicionais Procissões.
Por coerência consigo mesmas e com a sociedade, as pessoas que vão às diferentes Romarias devem conhecer minimamente a vida do Santo que ali se venera e imitar as suas virtudes… pois se invocamos um Santo é porque, de algum modo, nos identificamos com ele.
Quanto ao pagamento de promessas, eu já passei por essa fase, e confesso que tive na minha vida autênticos milagres… mas agora verifico que tenho milagres bem maiores… sem fazer promessas!
O decurso da vida vai-nos mudando! Quando estamos perante amigos muito íntimos, como deve ser Deus, por QUEM viveram os Santos e por QUEM nós também tentamos viver, não sentimos necessidade de fazer promessas, pois sabemo-los presentes a todas as nossas dificuldades e anseios. Acabamos por aprender que Deus quer “misericórdia e não sacrifício” e que o sacrifício mais agradável a Deus e aos Santos é o que é feito pela misericórdia que devemos ter connosco mesmo e com os nossos irmãos.
Para seremos misericordiosos e compreensivos com os outros temos de o ser connosco próprios, porque é muito difícil… talvez seja mesmo a maior dificuldade humana… o olhar para nós mesmos e admitir os nossos defeitos… mas só quando conseguirmos admiti-los aceitaremos, sem revolta de maior, os defeitos dos outros, e haverá entendimento e crescimento comum, porque todos tentaremos ser pessoas melhores.  
Quando virmos uma pessoa muito revoltada… em vez de fugir ou criticar, tentemos por todos os meios ajudá-la a descobrir-se a si mesma e a aceitar-se tal qual é, que o resto virá por acréscimo.
Umas santas férias… um trabalho muito próspero… ou muita paciência na sua procura… no gozo perfeito das nossas muito queridas Festas e Romarias!

Hermínia Nadais - herminia.nadais@sapo.pt