
Estamos nos últimos dias que nos separam da vivência de mais uma Páscoa, festa universal que nos levará a todos, como o termo indica, a alguma passagem, que se de mais não for, será de alguns dias um tanto diferentes dos demais.
A festa da Páscoa, que data dos tempos mais remotos, é universal, muito embora vivida por cada povo bem à sua maneira.
Neste cantinho do mundo, nós, portugueses, que nos orgulhamos de ser um País de índole cristã acentuadamente católica, o como vivemos a Páscoa é um ponto a considerar. Longe vai o tempo dos longos sermões e sentimentais vias-sacras a preencher os domingos da Quaresma, e da Semana Santa cheia de representações com pessoas magoadas até ao choro, seguidas de domingos de Páscoa acordados pelo alegre repicar dos sinos com a Cruz levada em júbilo pelas ruas de visitas às habitações onde a miudagem se alegrava até ao fundo do coração com uma pequena fatia de pão-de-ló e algumas amêndoas que o Padre docemente lhe deitava nas mãos… e coma visita dos padrinhos que esperava ansiosa lhes adoçasse um pouco mais a boca com a oferta de mais algumas amêndoas.
O saudosismo abala muita gente que se amofina porque agora tudo está diferente, mas temos que convir que muitas dessas vivências eram puramente ritualistas, e quanto a lágrimas, não eram só de pena do sofrimento de Jesus mas também de pavor pelo castigo que iriam receber de Deus pelos desvarios cometidos. E foi neste tipo de educação cristã que a maior parte dos mais que cinquentões viventes cresceram.
Não quero que isto possa ser visto como crítica, que não é, pois pretendo apenas recordar o que foi a nossa realidade… realidade que teremos de ver como berço dos nossos filhos e netos para não nos revoltarmos tanto com a realidade dos nossos dias.
A maior parte dos nossos pais e avós não sabiam ler nem tinham quaisquer estudos, não tinham jornais, rádio, televisão nem internet e os transportes eram escassos, situações desfavoráveis ao conhecimento de outras culturas e desbravamento de outros horizontes, pelo que se mantiveram sempre debruçados sobre si mesmos.
A maior abertura ao estudo aliada à implementação da comunicação social e meios de transportes parece-nos ter colocado o mundo do avesso, mas não. O mundo é belo e bom, e a massa humana não está tão mal como parece, nós é que temos o péssimo hábito de ver primeiro o que está mal e acabamos por ver só o mal.
Se nesta Páscoa que atravessamos passarmos a ver primeiro o bem, descobriremos em nós e nas pessoas que nos rodeiam coisas muito boas e o mundo parecer-nos-á muito melhor.
Vivemos na busca constante da felicidade, uma utopia nesta etapa da vida que de felicidade nunca nos dará mais do que alguns momentos, que serão tanto maiores e melhores quanto mais, esquecidos de nós mesmos, nos dedicarmos a compreender, aceitar e conviver com quem nos rodeia com muito amor, carinho e dedicação.
Para todos, montanhas de felicidade numa Páscoa de amor!
Hermínia Nadais
A publicar no Notícias de Cambra