terça-feira, 27 de outubro de 2009

Óculos cor-de-rosa!...


Quando afirmamos que o sonho comanda a vida estamos convictos de que encarar as situações de forma positiva é angariar razões para que do nosso meio ambiente se removam os obstáculos que nos impedem de atingirmos algo de bom, agradável, compensatório, frutuoso.
Contudo, por mais positivistas que formos, somos assaltados por momentos que nos parece que o mundo vai desabar sobre nós, sem termos por onde fugir. Nestas circunstâncias “(ir)regulares” o desenrolar do dia a dia, normalmente fácil de gerir e ultrapassar, apresenta-se-nos como um gigante avassalador e desalmado que nos afugenta, arrasa e domina.
Quando este estado de espírito é muito frequente, “regular”, quase que nem nos apercebemos… mas coitado de quem conviver connosco, pois se não nos leva ao psiquiatra vai lá parar com toda a certeza; quando é um acontecimento “irregular”, sentimo-nos completamente sós, desnorteados, perdidos, acabrunhados, inquietos e inseguros… sem capacidade de compreensão ou controle, mas apenas por algum tempo.
Em situações desta natureza apetece colocar uma espécie de óculos para que tudo nos pareça de novo cor-de-rosa… mas parando para pensar chega-se de imediato à conclusão de que nunca poderia ser assim.
Quando assaltados por estas irregularidades, urge verificarmos que nós… connosco… muito embora sejamos um único ser, uma única pessoa, somos muitas vezes como que várias figuras sobrepostas e contraditórias entre si, um todo em que o nosso querer, o saber, a vontade, a força, a sensibilidade… se cruzam e embaraçam de tal modo que nos afastam terminantemente da meta que nos propomos alcançar, fazem de nós tudo o que nunca pretendemos ser, levam-nos a realizar o que nunca pretendemos fazer e fazem-nos parecer o que intimamente não somos… factos que geram uma atitude de revolta interior muito difícil de aceitar e dolorosa de dominar.
Situações desta natureza, (mais frequentes do que possamos imaginar), são as ocasiões propícias para podermos afirmar com toda a certeza que o nosso maior inimigo somos nós mesmos. Sentirmo-nos mal, desprezados e aniquilados, quando a razão do nosso mal estar se deve ao mau comportamento de alguém, é compreensível e aceitável; mas quando verificamos que a verdadeira causa dos nossos tumultos está nós, na dificuldade de aceitarmos e gerirmos as nossas emoções, quando descobrimos a certeza das nossas (in)culpabilidades que urge assumir, a situação torna-se muito mais penosa, difícil e constrangedora. E então temos que reunir todas as nossas forças para, numa batalha atroz, sangrenta e invisível, conseguirmos descobrir mais profundamente quem somos e como somos para podermos controlar, ainda que minimamente, os nossos distúrbios emocionais e podermos voltar à nossa normalidade.
Se nos olharmos assim, tal qual somos, tornaremos a vida mais fácil, para nós e para os outros… não com óculos cor-de-rosa, mas com o nosso “ser pessoas” com toda a verdadeira força que a expressão encerra.


Hermínia Nadais
A publicar no "Notícias de Cambra"

domingo, 11 de outubro de 2009

No rescaldo de uma luta!


Durante uma época ainda muito presente na nossa memória a luta pelo poder preencheu o coração de alguns portugueses, a atenção do meio envolvente esteve na mente de alguns mais e os desinteressados ainda foram muitos.
Nos dias aprazados, os portugueses, supostamente de forma livre e espontânea, tiveram de escolher, não “o óptimo de entre o bom”… mas de entre o que há o que lhe possa ter parecido melhor.
A luta, se honesta e construtivamente sadia, terminou! Interessa, agora, mudar as mentalidades dos políticos e de todos os portugueses e portuguesas, para aceitarmos as nossas realidades e enveredarmos pelo caminho do crescimento.
Todos sabemos que a perfeição, nos seres humanos, não existe. O ser humano sempre foi e será susceptível de cair no erro, tanto a nível individual como institucional. Por isso mesmo… cada força política, em si mesma, sempre apresentará aspectos positivos e menos positivos ou negativos, é compreensível. Há que ter a abertura capaz de saber escolher e aceitar, mutuamente, de cada uma delas, o que tiver de melhor.
Vivemos numa democracia! Os Órgãos do Poder não são formados, verticalmente, por um só partido unitário, mas são órgãos colegiais, com a representação legal dos diferentes partidos ou forças políticas, forças expressas pelo número de candidatos eleitos pelos votos que cada partido usufruiu e que perfazem a real vontade do povo.
Assim, depois de cada acto eleitoral, é urgente que se aprenda a ganhar com humildade ou a perder com dignidade, pois em democracia, todos, pelos votos com que foram eleitos, ficam ao serviço do povo, um serviço que não deve, de forma alguma, ser defraudado.
O País ou localidade só poderão crescer quando cada eleito, de mãos dadas com os restantes eleitos, defendendo honesta e regradamente os princípios da sua eleição, for capaz de aceitar a partilha mútua das melhores ideias e dedicar todo o seu empenho à causa do desenvolvimento nacional ou local.
Nenhum eleito pode aproveitar a sua situação de eleito para servir os seus próprios interesses ou os interesses dos seus amigos, mas para servir os reais interesses da sociedade que o elegeu. Os fundos públicos são sempre da Sociedade em geral e nunca por nunca podem ser dos políticos que os gerem.
Por sua vez, o povo em geral, quando livre de situações desesperadas, que prefira o trabalho justo ao “Fundo de Desemprego”, “Rendimento Mínimo ou de Inserção social”; que das grandes às pequenas empresas ou comércios, trabalhadores por conta própria ou mesmo assalariados, haja o exacto pagamento dos impostos legais; que quem está “realmente doente”… procure o médico e seja bem tratado como tal, que a verdadeira invalidez seja bem interpretada e remunerada, que a experiência da velhice seja bem paga e vista como uma mais valia… mas que o bom senso e a verdade de vida acabe de vez com tantas “doenças ou incapacidades graves” que se nos apresentam sãs depois de conseguidas as respectivas aposentações; que o povo fale menos de crise e viva mais regradamente com o mínimo necessário… pois os que menos têm aguentam e não gritam; por fim, que cada membro do povo aprenda, antes e acima de tudo… a criticar-se a si mesmo e a corrigir os seus próprios defeitos… pois se o fizer pode estar certo de que os políticos, que são filhos do povo, serão realmente honestos, verdadeiros, desprendidos, compreensivos, (des)interessados, imparciais, trabalhadores, dedicados… promotores do desenvolvimento, do amor, da justiça e da paz.
Sem dúvida alguma! É urgentíssimo que, aos pouquinhos, cada um de nós se esforce por recompor a sua forma de ser e de estar… para que a nossa sociedade possa ser, na verdade, mais próspera e fraterna.

Hermínia Nadais
A publicar no “Notícias de Cambra”