
Há questões para as quais só o “tempo” poderá oferecer resposta convincente... mas... nem sempre o tempo tem o dom de trazer a resposta adequada para todas as questões?!...
Já tenho algumas boas primaveras de que muito me orgulho, mas esta está a ter, para mim, um sabor muito especial. Mesmo com o tempo invernoso, chuvoso e frio como não lembra, o Céu é muito mais azul e a Terra mais verde, as flores mais belas e o canto dos passarinhos mais suave e melodioso.
A Primavera é sempre o desabrochar de vida nova com o começo de novas vidas. Esse facto ressalta, claramente, a todos os olhares. Mas, na renovação do insondável mistério da vida, existem outros mistérios facilmente despercebidos, porque não palpáveis aos sentidos estritamente humanos.
Na Primavera decorre a maior parte do tempo da Quaresma; nela se renovam mais intensamente as Celebrações Pascais, com todas as suas doações. Estes acontecimentos, para muitos rotineiros e sem sentido, tornam-se, ininterruptamente, numa vivência única para todos e cada um. Prestando atenção às solicitações externas e internas que se nos vão proporcionando das formas mais diversas, poderemos constatar esta grande verdade.
Na estrada da vida, por onde caminhamos incessantemente, intercaladas com algumas pequenas rectas surgem as curvas mais sinuosas e inesperadas, cada uma com seu “quê” de especial. E é na passagem cuidada de todos os imprevistos dessa tortuosa via que a nossa vida se vai apresentando mais ou menos válida, mais ou menos segura de si perante tudo o que a rodeia, mais ou menos apta a conquistar outras paragens e transpor novos horizontes à procura de outros sabores da alegria de viver.
A Quaresma, sem dúvida, é o tempo ideal para nos abandonarmos loucamente nos braços carinhosos do “Pai” e aprendermos a manter-nos mais unidos a Ele, num diálogo permanente, forte e profundo; então, assim, já é um pouco mais fácil lançarmo-nos fortemente nesta aventura de vida, que nos traz o benefício de uma felicidade sem par. Não é preciso metermo-nos em façanhas de vulto, pois a vida será grande somente quando nos dedicarmos à perfeita execução das coisas mais pequeninas: é um amigo que necessita de consolo e a quem dirigimos uma boa palavra; é uma conversa que pede uma resposta brava e respondemos doce e carinhosamente; é a troca da comodidade e bem-estar pela alegria de um encontro; é a incompreensão que dá lugar à delicadeza de um carinho; é a indiferença substituída por uma mão aberta para dar; é o apagar da brusquidão por muito, muito amor... E nisto consistirá, realmente, a nossa “Páscoa”, a passagem de uma vida pouco útil à vivência da verdadeira utilidade de uma vida.
Trabalho difícil e moroso, mas não impossível! Para o conseguirmos, basta domar a nossa vontade à vontade do Pai seguindo as pisadas do Filho, o Verdadeiro Caminho, Verdade e Vida. Assumidos, sem receios ou preconceitos, comecemos a gozar a alegria deste modo de viver... já, neste momento... para que não venhamos a repetir os desabafos de muita gente: Porquê... só agora!
Hermínia Nadais
Publicada no Notícias de Cambra