
Se, à partida, é tão ambicionada e parece tão fácil a vida de aposentados, a realidade, às vezes, é um pouco diferente. Mesmo com as tarefas profissionais obrigatórias terminadas, ordenado no fim do mês, boa saúde e tempo livre, com tudo a andar, digamos, “sobre rodas”, há tantas surpresas!... Muito agradáveis, muito gratificantes, mas que exigem, por vezes, um pouco mais do que o que, de imediato, há para dar. Então, envidam-se esforços para que tudo seja possível. E consegue-se, não o que se quer, mas o que se pode depois de, como até ali, se tentar conciliar as coisas e escolher a tarefa mais urgente e precisa em determinada ocasião.
É muito bom sentir que somos úteis e necessários e que o tempo começa a escassear numa altura em que a todos parece que o temos de sobra. É que, ao chegar a esta fase da vida, o receio de uma inactividade passiva, da sensação de inutilidade e da pasmaceira de não se ter nada para fazer, leva à tentação de se partir à procura de novas aventuras, aliciantes e com oferta de enorme compensação. E encontram-se, é um facto. Trazem grande felicidade. Mas, bem cedo se fundem com tarefas que, sem que as procuremos, nos surgem, inerentes à nossa condição de filhos, pais e avós.
Situações novas, que nos propõem novas atitudes. Agora, que podemos, urge vivê-las, com toda a plenitude! São momentos insubstituíveis, tais como muitos outros que passaram... e dos quais, as urgentes actividades profissionais nos obrigaram a desviar a atenção que devíamos e queríamos e em que o contributo prestado, mesmo ficando muito aquém do desejo, foi superior a todas as forças possíveis naquela ocasião.
A vida tem várias fases, umas mais difíceis que outras, cada qual com sua característica própria. E quando chegamos a esta situação, ela já nos ensinou a aproveitar intensamente todos os seus momentos e a não perder nenhuma ocasião de realizar os nossos sonhos. É o que tentamos fazer.
Quando deparamos com amigos mais jovens, lá vem a frase habitual: “Agora é que estás bem! É passear e gozar! Quem me dera!”
É muito natural este modo de pensar. Mas, ainda bem que a vida é mais que gozo e passeio! Se fosse apenas isso, perderia o seu pleno sentido e cairíamos num vazio sem medida. A vida tem que ser algo mais, tem que ter outros objectivos, outras aspirações que nos mantenham vivos e activos. Se assim quisermos e pensarmos, por incrível que pareça, a vontade de levar a cabo todas as actividades de que gostamos e para que somos solicitados, é um facto; consegui-lo, grande parte das vezes, é uma enorme e complicada caminhada que, mesmo que não chegue sempre a bom termo, é um desejo que existe e nos conserva em plena juventude. Ainda que o peso dos anos nos entorpeça os músculos e faça fraquejar os ossos, a nossa mente sonha ininterruptamente e em cada dia aprendemos coisas novas. A vida é mais bela em todos os seus momentos.
Não percamos o Outono da nossa existência. Aproveitemos tudo o que tem de bom. Não joguemos tempo fora. Procuremos encontrar ou fazer amigos, nossos iguais, para quem a vida tenha um valor idêntico. Ajudemo-nos mutuamente. Tentemos ser mais abertos, francos, compreensivos, úteis, da melhor forma que pudermos. Dialoguemos com os mais jovens de modo a, com a nossa experiência, levá-los à descoberta do melhor aproveitamento de cada fase da vida, para melhor realização pessoal e felicidade de cada um. Demos à vida os horizontes deslumbrantes que ela tem, e que, à medida que o tempo avança, mais se abrem, diante dos nossos olhos.
Se a morte começa com o aparecimento da vida, a Vida começa com a morte. Vivamos esta realidade, e, ultrapassando as barreiras da alegria, que o Amor nos faça rejuvenescer e viver em Paz.
Sejamos felizes e espalhemos felicidade.
Hermínia Nadais
Publicada no "Notícias de Cambra"