Fala-se muito em Justiça, mas vive-se muito pouco aquilo de que se fala. Ao falar em Justiça temos presente a Lei. É um facto que, humanamente falando, a Justiça depende da Lei; no entanto, e novamente, “humanamente” falando, só poderia entender-se deste modo, se o homem fosse simplesmente humano, sem ter no seu íntimo algo que transcendesse essa humanidade. Ora, acontece que o homem, na plenitude do seu ser, criado à semelhança do seu “Criador”, a exemplo “d’Este” expresso na vida de Seu Filho, terá forçosamente de ter obras de Justiça baseadas na bondade e misericórdia, obras estas que de forma alguma podem depender somente da Lei, mas do Coração, que muitas vezes é obrigado a contrariar a própria Lei. Se “a Justiça sem Amor é uma utopia, o Amor sem Justiça é uma mentira!”
Assim sendo, como poderá o “Homem” viver com Justiça?
Como é óbvio, não poderá crescer, realizar-se de modo algum, à custa da miséria e do mal dos outros; por isso, terá de optar por um projecto de vida que, sem desrespeitar a lei dos homens, procure o bem de todos e não só o de alguns, mesmo que nesses “alguns” esteja inserido ele próprio.
Viver com Justiça é comprometer-se com melhorar as vivências de todos os injustiçados, sejam de que natureza forem.
As situações de injustiça que mais nos impressionam são: a fome, enquanto se estraga comida; a guerra, enquanto se fala tanto de paz, mas de paz exterior, que não sai do coração; a falta de emprego, enquanto há tanta gente com empregos duplos; os salários muito baixos, enquanto há salários altíssimos; a falta de apoio a doentes e idosos, com consultas e medicamentos muito caros e reformas sociais muito baixas, enquanto há reformas enormes onde quem delas usufrui pode estragar dinheiro à vontade; as críticas aos drogados e outros marginais, que na quase generalidade dos casos tiveram berços muito maus, não só por falta de dinheiro mas também de carinho, afecto, compreensão, aceitação dos seus defeitos ou qualidades... e em grande parte, são provindos mesmo de famílias abastadas e bem conceituadas...
Fazer Justiça é impedir todas as situações que não deixem o homem ser “Homem” realizado e feliz.
Porque foram proclamados e aceites os DIREITOS DO HOMEM, com leis que não podem ser violadas e o são a toda a hora, muitas vezes, mesmo inconscientemente?
Denunciar desigualdades sociais e materiais que levam à escravidão, o máximo da injustiça, que além de retirar aos outros os bens, também os priva de liberdade e dignidade, é ser justo e lutar contra a injustiça no mundo.
Ao lutar pela Justiça Social devemos considerar que os bens materiais ou espirituais devem ser dados a quem deles necessitar para que todos possam sobreviver dignamente. E mais ainda: tudo o que cada homem possui, na realidade, não é pertença sua. Ninguém tem culpa de nascer onde nasceu, portanto, deve ter presente que tudo recebeu de Deus; e, assim sendo, tal como Jesus se entregou para defender toda a comunidade das mais diversas formas, deve entregar os dons de que foi dotado também a favor da comunidade, tomando um compromisso capaz na construção da felicidade de todos.
Para chegar à vivência da justiça, cada homem deve “amar os outros como a si próprio”, procurando incansavelmente o que é melhor para o bem comum, pensando nos que não têm dinheiro e bens materiais, ou nos que, de qualquer outro modo, sofrem às mãos dos outros homens.
O homem é um ser social, terá de procurar a Justiça e elevar-se, dando-se aos outros; ou, então, não terá Amor e para nada lhe servirá a vida. “Amor e Justiça... são inseparáveis”.
Hermínia Nadais
Publicado no Notícias de Cambra