quarta-feira, 30 de março de 2011

Haja dignidade...



Estamos em pleno tempo de Quaresma. Num País que se diz católico, deveria ser um tempo de reflexão e de mudança, que talvez seja para alguns… mas pelo que me ocorre… talvez para muito poucos.
Pela parte que me cabe… em face de tudo quanto a Comunicação Social nos vem fazendo chegar a casa todos os dias… e pelos problemas que me consomem de tempos a tempos e para os quais não vejo grande solução… depois de muito pensar… cheguei à conclusão de que o dinheiro e as riquezas são o maior motivo de quase todas as desavenças sociais e até mesmo familiares.
Tanta ganância… para quê… se tudo deixamos ficar por aqui quando partirmos!... Eu não compreendo… eu não posso compreender… eu não consigo compreender!!!...
Passámos a vida na busca constante de felicidade… e acabámos, a maior parte de nós… a procurá-la nos bens materiais, que é onde ela não existe.
Que adianta ter muitas coisas… muito dinheiro e riqueza… se passámos a vida agarrados ao trabalho e às preocupações de manter e aumentar os proventos… esquecidos de nós mesmos e de quem nos rodeia… ou… o que é pior ainda… a complicar a nossa própria vida e a vida de quem nos rodeia? Não adianta nada… porque os bens materiais só nos são úteis na medida em que nos ajudam a ser felizes e a fazer os outros felizes… tudo o que vai além disto só cria complicação.
O que se está a viver não faz sentido! Por que havemos de ver sempre uma pequena parte da nossa sociedade a tentar enriquecer e esbanjar no gozo permanente de todos os prazeres da mesa, passeios, mordomias… enquanto a esmagadora maioria mal tem para sobreviver… e aos que têm pouco ainda lhes querem tirar o resto?!... Eu não compreendo, nem nunca irei compreender!
E não adianta falar mal dos governos… porque os governos portugueses, tal como os governos de todas as outras nações, são o fruto da mentalidade do povo que os elege. E assim sendo, falar mal dos governos é falar mal do povo, ou seja, de nós mesmos… mas cada um sabe como procede… talvez… quem sabe… a grande maioria de nós tenha mesmo razão para se criticar a si mesmo, só que ainda não encontrou sabedoria e coragem para o fazer.
Se nas pequenas coisas da vida diária, algumas pessoas lutam tanto para conseguirem enganar os outros e ficarem com um pouco mais… se essas mesmas pessoas chegassem ao poder aumentariam os salários e reformas chorudas sem se preocuparem com os demais… tenho a certeza!
É este o triste cenário do povo português que temos. Urge mudar mentalidades!
Se queremos que o País cresça… temos que crescer nós mesmos, não só em riqueza material que também é necessária para todos, mas em humanidade e moralidade, justiça e verdade, vontade de trabalhar e de repartir, ou seja, temos de aprender a viver em pleno a fraternidade humana, onde o trabalho e honradez sejam uma constante e o supérfluo de uns seja aproveitado para o bem dos outros de modo a que todos tenham uma vida mais digna e dignificante.

Hermínia Nadais

A publicar no "Notícias de Cambra"

quinta-feira, 24 de março de 2011

O Bem e o Mal

A vida é feita de aprendizagens permanentes que só ajudarão ao crescimento se pensadas, interiorizadas e aceites. A princípio poderão parecer difíceis, mas com a prática tornar-se-ão cada vez mais fáceis e normais. Na aprendizagem há que conjugar a lei do menor esforço que o corpo ordena com a força espiritual que nos leve a praticar o que mais convém ao desenvolvimento harmonioso da humanidade que cada um possui.
Uma vida que se nos apresente realizada e feliz esconde um grande trabalho intelectual e espiritual e muitas renúncias e esforços para fugir da prática do mal.
O corpo é o bilhete de identidade de uma pessoa, é com o corpo que a pessoa se relaciona consigo mesmo e com todo o resto do mundo, pelo que deve merecer todo o cuidado e atenção. O corpo para uma vida será sempre como uma criança sedenta de aconchego e carinho, o que lhe é realmente devido, mas sem exageros ou caprichos.
Querer é poder. O querer e o poder estão na mente… que se não vê… mas o que nela idealizarmos levará a que tudo à nossa volta se desenvolva no sentido dos nossos desejos, daí o dizer-se que “o sonho comanda a vida”.
Nas lutas constantes travadas entre as nossas necessidades corporais e espirituais estão inseridas duas forças muito fortes e antagónicas, a força do bem e a força do mal, pelo que devemos respeitar todas as pessoas que nos rodeiam ainda que sejam as piores possíveis, pois quando uma vida surge num ambiente em que o mal predomina sobre o bem a pessoa terá muito mais dificuldade em encontrar as formas de praticar o bem… sem culpa própria… o que a desculpabiliza.
Todavia, o ambiente próximo pode não ser de todo determinante. A pessoa, ao crescer, começa a alargar os seus horizontes e a formar a sua consciência pessoal, onde tudo pesa: as características pessoais, a hereditariedade, o ambiente próximo e cada vez mais o ambiente alargado, de modo a que o discernimento entre o que é bem e o que é mal se vá tornando uma realidade cada vez Maios evidente. São as acções praticadas queque tornam visível a a realidade do ser e o identificam como bom ou mau, mas que não pode ser visto de forma determinante, pois a vida está numa constante transformação, e o que hoje nos parece mau, amanhã pode apresentar-se-nos muito bom.
O bem e o mal são como duas plantas que crescem lado a lado, bem perto uma da outra, mas com processos de alimentação diferentes. O bem será cada vez maior se cultivarmos em nós o desejo de sermos bons e praticarmos boas obras, mas se praticarmos obras más estarem9s a alimentar o mal.
A força do mal esconde as amarguras que causa em embrulhinhos muito bonitos de papel dourado e lacinhos cor-de-rosa, ou seja, em prazeres imediatos que uma vez vividos deles não resta nada, só ódio e desilusão.
De contrário, a força do bem, tem embrulhos maltratados, não é atraente à primeira vista porque custa a realizar, mas os seus frutos produzem serenidade e paz duradoira, porque é enraizada no amor.

sábado, 19 de março de 2011

Diferentes e iguais

Pelo menos uma coisa há em que todos somos iguais: na imperfeição. E porque imperfeitos, susceptíveis de errar. Uns mais do que outros mas, como é lógico, todos sofrerão as consequências dos seus erros, numa existência ou noutra. Garantido, porém, é que cada um paga a exacta dívida que contraiu perante as leis imutáveis que regem o universo, materiais e morais, que são, todas elas, criação de Deus.
(Deus: inteligência suprema, causa primeira, ou primária, de todas as coisas. Aristóteles chamou-lhe motor imóvel.)
Mas paga apenas a exacta medida da dívida (juros é com as instituições de crédito). Desse modo, desaparece essa concepção da Idade Média chamada de Inferno e ganhamos a liberdade de errar. Com a liberdade de errar podemos aprender com os erros, e de aquisição em aquisição acabamos por saber amar.
O medo não elimina a imperfeição, apenas a mascara, ao passo que o amor aperfeiçoa. Afinal, conhecemos Deus no amor. E o amor esbate diferenças e ao esbater diferenças une. Quando unidos, já não seremos iguais na imperfeição mas iguais no amor. E é aqui que entra aquela injunção de “não separe o homem o que Deus uniu”. Donde, o pacto estabelecido fora do amor é mero acordo de conveniência sem outro valor que não o da legislação humana. Por isso tão instáveis e efémeros no tempo.
Sermos iguais na imperfeição, a consciência disso, leva a que toleremos melhor o outro com os seus equívocos, porque também nós mesmos estamos sujeitos a equívocos. Combater ideias é bem diferente de combater pessoas e só combate pessoas quem não sabe combater ideias. Donde também, é possível apesar dar diferenças dar as mãos para em conjunto construir o reino de Deus no coração do homem.

a. pinho da silva
Texto de António Augusto, na rubrica ESPIRITUALIDADE, In "Notícias de Cambra"

quarta-feira, 16 de março de 2011

A Família e o Amor

A família, escola de amor, é o lugar onde as coisas melhores e piores podem acontecer. A família é a célula da sociedade. se queremos ter uma boa sociedade , teremos que lutar muito para que o coração da família, unido pelo amor, seja liberto dos egoísmos e egocentrismos que destroem as relações humanas.
O amor, quando é amor, não acaba, porque o amor não é sentimento, é decisão! Por isso, temos que amparar muito bem os casamentos… e ter um imenso cuidado com as separações, pois se há muitos casamentos que nunca o foram… também há muitas separações que não existem… porque as pessoas podem viver distanciadas umas das outras e ter os corações bem próximos.
O amor familiar, se existiu, pode estar bem escondido debaixo das cinzas das amarguras e desentendimentos, mas está lá, porque um relacionamento profundo deixa sempre marcas indeléveis!
É urgente que os esposos se habituem a sair da rotina das relações familiares para descobrirem inúmeras formas de lhes dar novidades e atenções permanentes… para que o amor que ainda existe não acabe por ficar sepultado nas marcas também indeléveis dos inúmeros períodos de esmorecimento e desencanto… que acontecem… acreditemos ou não… em todas as vidas!
“É preciso fazer ressurgir a esperança, para que o coração da família volte a bater”.
Amar não é dizer “eu amo-te”, é viver em amor. E amor é quando a mulher continua a amar o marido mesmo depois dele a ter traído; é quando o marido continua a amar a mulher mesmo depois de incompreendido e desprezado; é quando o homem, a mulher ou os dois, continuam a amar os filhos…mesmo que eles não os compreendam nem correspondam às suas expectativas de pais!... Amor é quando se vai ajudar, o bêbado que se embebedou porque quis; é quando se vai ajudar a pessoa que não pode; é quando se está num mar de tristeza mas se sorri abertamente para a pessoa que passa, para que ela se sinta feliz; é quando se escuta alguém com a maior atenção, nos momentos em que precisávamos, nós, de ser escutados…
É urgente pensarmos seriamente e cada vez mais na defesa do casamento, da saúde, da vida, das crianças, dos idosos… pois todos são parte integrante da sociedade.
Falamos muito na educação das crianças, mas somos nós, adultos, que temos de nos reeducar e renascer para uma vida nova, aprendendo uma nova mentalidade, liberta de culpabilidades e egoísmos torpes, e voltada, sim, para o verdadeiro amor.
A criança, tal como o adulto, é um ser social que não pode educar-se só na família, mas que aprende com a sociedade. entre Família/Sociedade há uma interligação constante. O lugar da família é o coração da sociedade, e a sociedade será o que forem as suas famílias. por isso, é preciso que as famílias que nos circundam, do vale ou da serra, da aldeia ou da cidade, sejam, convenientemente, reeducadas.
A pessoa humana, no seu ser, é comporta de desejos de verdade, justiça, beleza e bem-estar, que se esperam alicerçados no amor a si mesmo, a Deus e ao próximo. A relação com o divino, que é propriedade intrínseca do ser humano, é urgente que seja recolocada na vida. Precisamos olhar o mundo e os homens, não só com os olhos físicos do corpo, mas com os olhos da alma, do coração, da inteligência, vontade, sensibilidade e razão, mantendo retidas na memória as palavras que o Santo Padre nos veio dizer, que não nos trazem nada de novo, mas nos lembram, clara e convictamente, o que queremos ignorar e é urgente viver!

Hermínia Nadais
Publicado no " Notícias de Cambra"

domingo, 13 de março de 2011

Os desertos da vida!...

Quando falamos em desertos, quase inconscientemente, parece-nos sentir o sol bem desperto, ver areia por todo o lado, alguns camelos e caminhos imperceptíveis na busca de um pequeno oásis… algures… não se sabe bem de que tamanho nem de onde poderá surgir… pelo que a dificuldade de movimentação é enorme e uma bússola é de todo imprescindível para uma orientação capaz.
Um olhar mais profundo para a aridez do deserto tal como a imaginamos, pode levar-nos a pensar nos desertos da vida, com tudo o que têm de semelhante e de diferente.
Os desertos da vida… que todos nós temos... não têm sol quente nem camelos solitários em quilómetros de areia movediça! São momentos de desalento aterrador, de dúvida, solidão e indiferença, onde as sombras assustadoras da “noite” nos envolvem de tal modo que a sensação de um vazio atroz faz sobressair o nada que somos e nos leva para bem longe a esperança que nos move na busca do verdadeiro caminho a percorrer… na luta constante pela felicidade que todos ansiamos e para a qual todos fomos criados e que só em Deus encontraremos.
Estas situações… quando não bem assumidas e geridas… ou mesmo assumidas com coragem… são sempre difíceis de ultrapassar sem a ajuda e consolo de alguém com vivências de experiências idênticas… pois as experiências nunca são iguais nem se repetem, ainda que seja com a mesma pessoa, uma vez que cada situação ou momento são únicos numa vida.
Estes momentos de deserto, que acontecem naturalmente em qualquer vida, não nos podem deixar cair no desespero, mas devem ser bem aproveitados para, numa maior intimidade com Jesus Cristo, nos levarem a um maior crescimento espiritual e humano.
Estamos em pleno Tempo Quaresmal, tempo em que nós, cristãos, devemos procurar, bem longe dos desertos difíceis atrás descritos, aquelas situações de deserto, ou seja, do retirar-nos um pouco da nossa rotina diária para meditarmos mais seriamente em tudo o que nos leve a olhar-nos tal qual somos para que nos aceitemos com defeitos a corrigir e qualidades a desenvolver, e levemos o conhecimento à acção/conversão/mudança de vida.
A mudança de vida ou conversão pessoal não é só para os cristãos, é para toda a gente que se preza de ser gente. Por incrível que pareça… nenhum de nós, cristão ou não cristão, poderá fugir da sua realidade de criatura de Deus que, de forma livre e responsável, deve desejar o bem (próprio e alheio) e evitar o mal (próprio e alheio).
Que neste tempo de mudança tenhamos a sabedoria de saber encontrar o verdadeiro caminho nas nossas vidas, pois só assim, o “ama e faz o que quiseres” de Santo Agostinho, será uma máxima em todas as vidas… que tudo farão para que haja mais entendimento, solidariedade e paz!

Hermínia Nadais
A publicar no "Notícias de Cambra"